Em um país onde a agricultura já é extremante eficiente e as fronteiras agrícolas estão, em boa medida, consolidadas, ainda é possível aumentar a produção sem avançar sobre áreas de conservação ambiental? A biotecnologia acredita que sim. O aumento do potencial produtivo é um dos principais objetivos da ciência agrícola.
As linhas de pesquisa foram abertas há 30 anos, mas ganharam urgência com as previsões que apontam aumento da variabilidade climática no mundo. Plantas resistentes a insetos e tolerantes a herbicidas, que já são realidade nos campos brasileiros, são apenas a ponta do iceberg, uma amostra do que a pesquisa pode fazer pela agricultura. Empresas de biotecnologia travam uma corrida mundial para desenvolver novas linhagens de culturas capazes de florescer mesmo com escassez de água, de aproveitar melhor os fertilizantes ou de gerar alimentos com maior valor nutricional.
Os Estado Unidos estão na vanguarda desta linha de pesquisa. Lá, variedades geneticamente modificadas de algodão e milho resistentes a seca já estão em teste e devem chegar ao campo nos próximos anos. Mas isso não é coloca o Brasil em desvantagem, avalia o professor José Maria da Silveira, pesquisador do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB). Na sua opinião, o país deve aproveitar o conhecimento internacional para focar na pesquisa em climas tropicais. "Podemos exportar tecnologia para outros países tropicias, como a África, por exemplo", diz o professor.
Engana-se quem pensa que o Brasil corre atrás do resto do mundo quando o assunto é tecnologia agrícola. A Embrapa Soja, referência internacional em pesquisa aplicada à agricultura, desenvolve há cinco anos uma variedade resistente à seca. A empresa pretende dar início aos os testes de campo com a nova cultivar no ano que vem, mas as sementes devem levar pelo menos cinco anos para chegar ao produtor. Atualmente, apenas a soja RR (tolerante a herbicida), o algodão Bt (resistente a insetos) e, mais recentemente, o milho Bt e o resistente a herbicida, estão liberados para uso comercial no Brasil.
"O principal entrave para o rápido progresso da agricultura brasileira é a nossa legislação de biossegurança, que é muito restritiva", avalia Ivan Schuster, responsável pela área de biotecnologia da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec). Segundo ele, hoje há 11 produtos aguardando avaliação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão resposável pela liberação comercial de variedades geneticamente modificadas. "O processo todo é muito moroso e isso tende a restringir o investimento estrangeiro em pesquisa no Brasil", afirma.
Para Silveira, com o respaldo de uma política e regulamentação adequadas, a biotecnologia tem enorme potencial para ajudar os agricultores a produzir cada vez mais e melhor sob condições climáticas adversas e minimizar o impacto negativo sobre o ambiente. Em tempos de aquecimento global, sustentabilidade é a palavra de ordem.



