A araucária, árvore símbolo do Paraná, já foi um dos principais motores da economia do estado nas décadas de 50 e 60. Hoje, não é explorada comercialmente por agricultores. Mas um grupo de pesquisadores da Embrapa Florestas, de Colombo, na região metropolitana de Curitiba, quer mudar esse conceito. Liderados por Ivar Wendling, eles unem esforços para mostrar ao produtor rural que o plantio de florestas nativas pode, sim, ser um bom negócio. O trabalho para viabilizar a exploração sustentável e incentivar a produção comercial é desenvolvido em duas frentes: melhoramento genético e engenharia de alimentos.
"Neste primeiro momento, estamos organizando as informações para identificar gargalos e resolver os problemas. O objetivo é disponibilizar materiais genéticos que deem ao produtor a ferramenta técnica para que ele faça o que se preconiza. A melhor forma de preservar é mediante o uso", diz Wendling.
Espécies exóticas que concorrem com o pinheiro nas fazendas, como o eucalipto e o pinus, já chegaram ao Brasil com um protocolo genético adiantado, de 50 anos de pesquisa. "Por isso a araucária ficou em segundo plano. As empresas privavas preferem investir em pesquisa de espécies que já têm essa base tecnológica do que começar do zero com materiais selvagens, como a araucária e a erva-mate."
O maior desafio da Embrapa Florestas, explica Wendling, é reduzir o tempo de maturação da madeira para antecipar o corte e acelerar o retorno dos investimentos. Com ciclo longo, a araucária tem produtividade em média 50% menor e, portanto, rentabilidade inferior à de espécies exóticas. Sua idade de corte é de no mínimo 20 anos, enquanto o eucalipto pode render a primeira colheita em 6 ou 7 anos. Um pinheiro com 25 anos equivale a um pinus de 15 anos, compara o pesquisador Edilson de Oliveira.
"No longo prazo, entretanto, há um espaço promissor para a araucária. Uma plantação manejada pode ser um patrimônio dentro da propriedade", completa. Leve e sem falhas, a madeira da araucária é valorizada no mercado. Uma tora com 30 a 40 cm de diâmetro chega a valer R$ 180 o m3, quase três vezes mais que o pinus.
"O uso mais nobre da madeira, a produção de pinhões e a possibilidade de manejo sustentável em áreas de reserva legal são fatores que devem pesar na decisão do produtor. Uma estratégia prudente é não colocar todos os ovos em um só cesto e sim contemplar a diversificação, plantado mais de uma espécie, visando colheitas em ciclos curtos, mas também em ciclos longos", recomenda Oliveira.
Por ser uma espécie nativa, a araucária tem um potencial muito grande na recomposição de áreas de reserva legal, frisa o pesquisador Edilson Batista de Oliveira. "É uma ótima opção no Sul do estado, na região de Palmas, onde o clima é frio e o solo profundo e fértil." O Código Florestal permite o uso de espécies exóticas, mas prevê a substituição progressiva por espécies nativas até dezembro de 2014, explica.
A exploração de sistemas agroflorestais é outra possibilidade. Nos três primeiros anos de plantio, a araucária pode ser consorciada com culturas como o milho para cobrir os custos de manutenção da floresta.O pinheiro também pode ser uma boa opção para a implementação de sistemas agrosilvopastoris, fornecendo sombreamento para o gado, acrescenta o pesquisador Sergio Ahrens. "Em pequenas propriedades, o agricultor pode fazer uma integração produtiva, sem a necessidade de imobilizar uma área unicamente para florestas plantadas."
Outro incentivo é a exploração sustentável da araucária como espécie "frutífera", avalia Wendling. "O produtor pode ter no pinhão uma fonte de renda complementar. Para estimular essa atividade, a pesquisa busca antecipar a produção, que demora até 12 anos, e diminuir os intervalos para alongar a colheita."
O projeto da Embrapa Florestas procura também alternativas para agregar valor ao produto in natura, observa Cristiane Vieira Helm, da área de tecnologia de alimentos da empresa. "O pinhão tem alto teor nutricional, proteína, fibra, amido. Sua farinha pode ser usada para fazer pães, bolos, doces, salgados, conservas, patês", cita. Segundo ela, a farinha pode ser produzida dentro da propriedade, sem grandes investimentos. A ideia é estruturar a cadeia produtiva do pinhão, hoje informal, através da agroindustrialização.