O azeite de oliva extravirgem é recomendado pelos médicos por ser considerado um alimento funcional, ou seja, ajuda na promoção da boa saúde e na prevenção de algumas doenças crônicas. Mas trata-se de uma matéria-prima cara, in natura, extraída a frio e que, no caso brasileiro, fica mais cara ainda porque 99,9% do que se consome tem de ser importado.
“O consumidor precisa entender que não existe azeite de oliva extravirgem que possa custar R$ 9 ou R$ 10. É impossível, não tem como, porque é um produto in natura, que sofre interferência da chuva, do calor, às vezes de pragas que impactam a colheita, e ainda tem que pagar os custos em dólar antes de chegar ao real”, alerta Rita Bassi, presidente da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliva.
No final de novembro, o golpe do gato por lebre no azeite de oliva foi desmascarado por uma fiscalização do Ministério da Agricultura. Constataram-se indícios de falsificação em produtos de 84 empresas brasileiras e 800 mil litros de azeite impróprio para o consumo foram recolhidos.
A auditora fiscal agropecuária Fátima Parizzi avaliou que “praticamente 100% das marcas envasilhadas no Brasil apresentaram problemas, enquanto que nas marcas envasilhadas no país de origem foram mínimos os índices de não conformidade”. Os problemas vão desde a inconformidade (azeite de oliva comum vendido como extravirgem, por exemplo) até fraude pura e simples (óleo de outros vegetais vendido como azeite).
Nos últimos anos, Rita Bassi, da associação Oliva, tem promovido uma série de workshops com varejistas e consumidores para mostrar como é o sistema de produção do azeite de oliva, para conscientizar que o preço baixo pode ser uma armadilha. “Depois de nossa campanha, o que fizeram os fraudadores? Eles criaram um produto e batizaram de tempero português e tempero espanhol, porque sabem que esses países têm tradição na produção de azeite. E ainda colocavam no rótulo as palavras extrapremium e extravirgem, para enganar o consumidor. Denunciamos essa prática e eles tiveram que mudar a rotulagem”, afirma.
Segundo Bassi, os falsos azeites de oliva geram uma “margem fantástica” para os envasadores e danos incalculáveis para os consumidores. “A gente sabe que o azeite é benéfico para a saúde, que tem várias propriedades que ajudam na prevenção de doenças. A pessoa recebe recomendação do médico para consumir, paga mais caro por isso, mas acaba seno enganado com óleo comum. Às vezes nem azeite tem, é um absurdo”.
A balbúrdia nos azeites envasados no mercado brasileiro oferece uma oportunidade de marketing aos países que exportam para cá. Material de divulgação da associação ChileOliva, que reúne 34 empresas e 93% da indústria chilena, traz a seguinte manchete: “Livre de fraudes, azeite de oliva do Chile é extravirgem de verdade”. A associação aponta que o Chile é “reconhecidamente um país com alta segurança e confiabilidade alimentar” e que, em 2016, 66% do azeite chileno engarrafado foi enviado para o Brasil.
O Brasil gasta quase um bilhão de reais por ano (US$ 289,4 milhões) na importação de azeite de oliva. Das 52,7 mil toneladas importadas em 2016 (contra uma produção local de apenas 90 toneladas), o Chile respondeu por 3,5 mil toneladas (6,6%) e ocupa o quarto lugar no ranking de nossos fornecedores. Portugal lidera isoladamente, com 31,5 mil toneladas (66% do mercado), seguido da Espanha (7,9 mil toneladas e 15%) e Argentina (5,4 mil toneladas e 10%).
Apesar de muito pequena, a produção de azeite de oliva no Brasil se destaca pela qualidade do produto obtido em olivais no Rio Grande do Sul e na Serra da Mantiqueira, entre Minas Gerais e São Paulo. Uma garrafa de 250 ml de azeite de oliva extravirgem da Serra da Mantiqueira pode custar R$ 50,00.
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