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Cada milímetro de chuva passou a ser contado como se fosse dinheiro pelos agricultores do Paraná nos últimos dias. Setembro foi o mês mais seco do ano e atrasou o início do plantio da safra de verão. O otimismo diante do cenário de bons preços no mercado internacional vai dando lugar, aos poucos, à preocupação.

A estiagem provoca atraso de até 30 dias no caso do milho e já ameaça a soja, que deve ser plantada a partir do dia 15. E as previsões meteorológicas não contribuem em nada para dissipar a tensão dos produtores. As chuvas do início da primavera, esperadas para esta semana, devem ser seguidas de novos períodos secos. Além disso, o La Niña veio para ficar e historicamente torna as precipitações irregulares.

A má distribuição das chuvas será o principal problema da safra, mostrou o meteorologista Luiz Renato Lazinski, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que participou da Expedição Caminhos do Campo/Gazeta do Povo com uma palestra a 130 produtores e lideranças do setor, dia 3, em Londrina. O problema vem ocorrendo desde julho, quando as precipitações ficaram concentradas em dois dias (23 e 25) e privilegiaram municípios dentro de uma mesma região, disse. "Parece que quem reza mais para São Pedro ganha mais chuva."

Até abril, a produção agrícola vinha sendo beneficiada pelas chuvas trazidas pelo El Niño. "Maio foi o marco divisor. Depois disso, as chuvas simplesmente pararam", disse Lazinski. Junho, julho e agosto foram meses secos. As chuvas ficaram dentro da média em algumas regiões, mas a concentração em um ou dois dias deixou o solo sem umidade a maior parte do tempo.

Lazinski vem alertando os produtores desde agosto, quando o fenômero La Niña começou a ser confirmado. As conseqüências chegaram com força em setembro, quando houve menos de 10 milímetros de chuva em média no Paraná. Em Londrina, a região mais prejudicada do estado, o mês não era tão seco há 50 anos. O último registro de situação parecida é de 1981, com 7,9 milímetros – o dobro da chuva de setembro deste ano.

Segundo mapa do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), o déficit hídrico que atinge as regiões Oeste e Norte é de mais de 70 milímetros. O relatório comprova a preocupação dos produtores: a água disponível no solo é insuficiente para o plantio em todo o estado, inclusive nas regiões privilegiadas pelas chuvas escassas, no Sul e nos Campos Gerais.

As perspectivas são pouco animadoras. Apesar de a temperatura se manter só um pouco acima do normal, as chuvas devem continuar irregulares e insuficientes até março, afirmou Lazinski. Ele pesquisou 14 modelos de previsões climáticas e 12 deles mostram que as águas do Pacífico continuarão resfriadas até a colheita da safra de verão.

Os riscos preocupam, mas não têm feito os produtores recuarem. Quem não vai plantar milho deve cobrir a área com semente de soja. As contratações da safra seguem em ritmo acelerado. Segundo o Banco do Brasil, responsável pela liberação de mais de 70% dos financiamentos com crédito oficial, falta fechar apenas um terço dos contratos, contra dois terços na mesma época do ano passado. "Até o dia 30, devemos encerrar as contratações para o milho e a soja", afirma o superintendente do BB no Paraná, Danilo Angst.

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