Esta não é a primeira vez que o governo intervém no mercado do café para forçar a alta dos preços do grão. A primeira intervenção federal oficial aconteceu ainda em 1906, quando foi firmado o chamado Convênio de Taubaté, que definiu uma política para a valorização do produto. Após a fixação de preços mínimos, os governos estaduais se comprometeram a comprar toda a produção e usar os estoques para impedir oscilações bruscas no preço do produto, além de proibir novos plantios para evitar queda das cotações.
Entre 1931 e 1944, o governo chegou a literalmente queimar cerca de 78 milhões de sacas de café, o equivalente a três anos de consumo global na época, para estimular a valorização dos preços. Na década de 30, a quebra da Bolsa de Nova York e a grande depressão norte-americana derrubaram o preço do produto nos mercados externo e externo e levaram à criação, em 1931, do primeiro instituto federal com a função de fortalecer a cadeia cafeeira no Brasil, o Conselho Nacional do Café (CNC).
Outros institutos surgiram desde então, entre eles o Departamento Nacional de Café (DNC), autarquia federal subordinada ao Ministério da Fazenda que controlou o setor de 1933 a 1946, e o famoso Instituto Brasileiro do Café (IBC). Criado em 1952, o IBC definiu as diretrizes da política cafeeira até 1989. Hoje, o setor é regido pelo Conselho Deliberativo da Política do Café, criado em 1996, vinculado ao Ministério da Agricultura (Mapa).
A extinção do IBC foi um dos mais duros golpes para o setor cafeeiro, que já vinha combalido desde a grande geada negra de junho 1975. Com a extinção do instituto, os estoques reguladores brasileiros, formados nos anos de 1987 a 1989, foram gradativamente vendidos a partir de 1993 e praticamente liquidados no ano passado. Há seis anos, quando foram retomados os leilões de venda após a extinção do IBC, o Brasil contava com quase 17 milhões de sacas estocadas, mais de 10 milhões delas armazenadas no Paraná. Desde então, sem novas aquisições e com leilões de venda periódicos, esse volume vem caindo ano a ano. No final de 2008, os estoques públicos do país somavam apenas 521,5 mil sacas, conforme levantamento do Departamento de Café (Decaf) do Mapa.
A maior parte dos estoques governamentais remanescentes (379,2 mil sacas) está em Minas Gerais, estado que hoje é o principal produtor de café do país. No Paraná, que já foi o maior produtor nacional, chegou a ser responsável por 28% da safra mundial no início da década de 60 e hoje ocupa a quarta colocação no ranking nacional, o volume armazenado é apenas simbólico. O levantamento do Mapa, referente a julho de 2008, acusa estoques de quase 35 mil sacas no estado, mas na prática a realidade é outra. Armazenados quase 20 anos, os grãos adquiridos pelo governo durante a década de 80 perderam qualidade e peso.
Das 34,9 mil sacas que constam no levantamento, 6 mil que foram entregues ao governo como garantia de financiamento aguardam decisão judicial para poderem ser comercializadas; 23 mil foram doadas ao Instituto Agronômico do Paraná (Iapar); e outras 2 mil foram roubadas. A conta fecha com a chamada quebra de peso, que exclui os grãos que já chegaram ao armazém com umidade elevada e os que estragaram com o tempo. São aproximadamente 4 mil sacas.
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