O congestionamento nas rodovias e as filas nos portos anunciam: é tempo de safra. E cheia. Chuvas abundantes asseguram produtividades acima da média nas primeiras colheitas e mantêm lavouras tardias em boas condições. Mesmo em meio a relatos isolados de perdas, será um ano de produção em alta. O dinheiro no bolso do produtor, contudo, não está garantido.
Depois da quebra no ano passado, os agricultores apostavam na produção farta para sair do vermelho nesta temporada. Mas o mercado não está ajudando. As cotações da saca de soja, que no ano passado chegaram a ultrapassar os R$ 50 no Paraná, hoje não chegam a R$ 35. Ou seja, para garantir rentabilidade neste ciclo, será preciso muita habilidade e planejamento na hora de negociar a produção.
"O monitoramento constante do mercado para aproveitar os picos de preço será fundamental neste ano", diz Alexandre Mendonça de Barros, analista da MB Associados. Por picos de preço, entenda-se cotações acima dos US$ 9 o bushel da soja (27,4 quilos) na Bolsa de Chicago, o equivalente a cerca de US$ 20 a saca de 60 quilos. Preços na casa dos US$ 12 o bushel, como no ano passado, ou superiores aos US$ 16, como em 2008, são improváveis nesse ano, considera Mendonça de Barros.
Na sua avaliação, o bushel da oleaginosa tende a oscilar entre US$ 8 e US$ 9 ao longo do ano em Chicago. O consumo mundial do grão volta a crescer com a recuperação da economia mundial depois da crise, mas o aumento da demanda fica aquém do incremento da produção, justifica o analista. "A Argentina sozinha vai colocar 20 milhões de toneladas a mais no mercado neste ano", cita. De acordo com as estimativas oficiais mais recentes, o país vizinho deve colher neste ano uma safra superior a 50 milhões de toneladas, volume que se soma às cerca de 65 milhões de toneladas que serão colhidas no Brasil e às mais de 90 milhões de toneladas que foram produzidas nos EUA no último verão.
Boa parte da soja brasileira será colhida em uma época de oferta farta, a partir de março, quando a Argentina também inicia seus trabalhos de campo. Por isso, a melhor janela de oportunidade para se desfazer da produção é agora, recomenda Mendonça de Barros. No mês que vem, quando os argentinos comçarem a colheita, haverá mais competição. Ele explica que o excesso de oferta tende a derrubar os preços em dólar na Bolsa de Chicago e derrubar também os prêmios de exportação nos portos brasileiros, apertando ainda mais as margens dos produtores brasileiros.
"A valorização do dólar deve compensar parte do recuo dos prêmios, mas reverte totalmente a queda dos preços internacionais", prevê o analista. Ele acredita que o real vai continuar perdendo terreno frente à moeda norte-americana ao longo do ano até se estabilizar em torno de R$ 1,90.
Seja no câmbio ou em Chicago, o que vai marcar 2010 será a volatilidade dos preços, considera Mendonça de Barros. "No Brasil o mercado interno promete muito, pois o país vai crescer bastante. Lá fora, como a oferta será farta e a demanda é firme, o mercado vai reagir aos solavancos da economia mundial. E isso quer dizer muitos altos e baixos", explica. Ele acrescenta que, em tempo de mercado em baixa, a volatilidade é boa para o produtor, que deve ficar atento ao sobe e desce das cotações para travar preços e garantir renda em um ano de safra cheia.
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