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Pátria dos combustíveis renováveis, o Brasil planeja ressuscitar um dos fracassados projetos dos anos 1970: a produção de álcool de mandioca. O uso dessa matéria-prima na produção de combustível foi iniciado em escala industrial pelo Proálcool – programa estatal que tinha o objetivo de pesquisar fontes alternativas ao petróleo, cada vez mais caro e escasso.

Seis usinas de álcool de mandioca chegaram a ser construídas no Brasil, na década de 1980, com financiamento público e incentivos fiscais. Como a cana-de-açúcar se mostrou a fonte mais viável na produção de álcool combustível, as usinas de mandioca foram gradativamente abandonadas. A única que sobreviveu, a Coraci, de São Pedro do Turvo (Sul de São Paulo), redirecionou sua produção para outros produtos, como o álcool refinado, mais puro, usado em indústrias de perfumes, remédios e bebidas.

Agora, pesquisadores e líderes dos produtores de mandioca estão iniciando um movimento para retomar a produção de álcool combustível. Um dos principais entusiastas da idéia é o químico industrial Claudio Cabello, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu e diretor do Centro de Raízes e Amidos Tropicais (Cerat), ligado à universidade.

"A produção de álcool carburante de mandioca é viável tanto do ponto de vista técnico quanto em relação a custo. E é também uma alternativa para o Brasil deixar de lado a monocultura da cana", afirma Cabello, que estuda o assunto há quase 20 anos. Além da mandioca, todas as plantas amiláceas (produtoras de amido) – como milho, arroz, batata doce, inhame e cará – podem ser usadas na produção de álcool.

Na avaliação do pesquisador, a cana só suplantou a mandioca porque recebeu mais investimentos em pesquisa de variedades mais adaptadas, resistência a pragas e doenças e também em melhorias no processo industrial. "Hoje, a produção e o processamento da mandioca também evoluíram. Por conta própria, sem a ajuda do governo. Já temos variedades que produzem até 40 toneladas por hectare, quando a média brasileira chega a ser quatro vezes menor."

Antônio Donizetti Fadel, presidente interino da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam), que reúne as indústrias do setor, aponta razões estratégicas e ambientais para o ressurgimento do programa do álcool de mandioca. "Quando o Proálcool foi lançado, o petróleo custava entre US$ 15 e US$ 20 o barril. Hoje, custa cerca de US$ 60. Além da crise do petróleo, o mundo exige combustíveis menos poluentes", diz Fadel, dono da empresa Halotek, que pretende produzir 150 mil litros de álcool hidratado por dia a partir de 2008. Em sua avaliação, se o Brasil agregar a mandioca à cana, poderá se tornar um grande fornecedor mundial de álcool combustível.

Segundo Jonas Arantes Vieira, diretor da Usina Cereálcool, também de São Pedro do Turvo, países como Venezuela, Colômbia e Nigéria estão interessados na tecnologia brasileira de produção de álcool de mandioca. A Cereálcool tem uma destilaria que usa mandioca e milho como matéria-prima e abastece sua própria frota com o álcool.

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