• Carregando...

Londrina – Não seria nenhum exagero afirmar que a produção paranaense de algodão chegou ao fundo do poço. Só não acabou porque ainda existem alguns guerreiros, produtores que por idealismo ou simplesmente falta de opção ainda acreditam numa retomada da cultura. Na comparação com o início da década de 90, a área destinada ao cultivo da pluma no Paraná desabou surpreendentes 98%. De 700 mil, caiu para 12 mil hectares na safra atual. O motivo não foi a geada, mas, assim como ocorreu com o café na segunda metade da década de 70, a cultura quase desapareceu do mapa agrícola do estado. Os fatores que levaram à queda brusca vão da falta de mão-de-obra a questões econômicas que favorecam a importação da pluma.

A boa notícia, porém, é que a área parou de cair. Um novo sistema de produção, ancorado num modelo cooperativo, acende uma luz no fim do túnel e volta a aquecer as apostas na cotonicultura. Tecnificado e mecanizado, o algodão ganha novos adeptos e traça metas ousadas para os próximos anos. Representantes da cadeia produtiva acreditam que a atividade tem espaço para atingir 100 mil hectares nos próximos cinco anos, condição que levaria o estado novamente ao pódio da produção, atrás apenas do Mato Grosso e Bahia.

Na ponta desse esforço está a Cooperativa Central de Algodão (Coceal), com sede em Ibiporã, Região Norte, que oferece ao produtor uma parceria no mínimo tentadora. A cooperativa garante uma remuneração mínima de R$ 950 por alqueire cultivado, para uma produção até 300 arrobas de algodão. Se por algum motivo a lavoura não produzir nada, o cooperado vai receber o estipulado pelo projeto, que no equivalente ao hectare seriam R$ 393.

A participação do produtor no resultado é gradual, de acordo com a produtividade. Na melhor situação, acima de 227@/ha, por exemplo, a parte do cooperado é igual a 35% da produção, cálculo baseado no algodão em caroço. Nesse caso, a cooperativa ainda garante R$ 14/@, acima do preço mínimo estipulado pelo governo de R$ 13,40. Na safra atual, foram realizadas vendas futuras a R$ 16/@.

No caso do valor mínimo, explica Wilson Wents, gerente técnico da Coceal, a remuneração cobre as despesas do produtor, estimadas em R$ 200/ha. A responsabilidade do cooperado é com a mão-de-obra, aplicação dos produtos químicos e o óleo diesel. À cooperativa cabe assistência técnica, fornecimento dos insumos, colheita e o transporte da fibra. O custo de produção do algodão com tecnologia para produzir 180@/ha é de R$ 1.800/ha.

A iniciativa da Coceal está segundo ano. Mas de uma safra para outra o plantio saltou de 726 para 3 mil hectares. A expectativa é crescer 20% por período e atingir a capacidade máxima da indústria de beneficiamento, que comporta a produção de 5 mil hectares. Se não fosse o fomento realizado pela co-operativa, que resultou na ampliação da área, o cultivo no estado estaria abaixo dos 10 mil hectares.

Esse, aliás, é um número divergente. A Secretaria da Agricultura diz que são 12,7 mil hectares, o relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) traz 12,9 mil e a Associação Paranaense de Sementes e Mudas (Apasem) trabalha com 10 mil. A explicação estaria no uso de diferentes metodologias de estimativa, que passam pela área plantada, área colhida e sementes comercializadas.

Segundo Almir Montecelli, presidente da cooperativa, "o objetivo é viabilizar a cultura, mas a partir de um novo sistema de produção". Ele destaca que o Paraná não tem o clima ideal para o desenvolvimento do algodão, mas que o estado desenvolveu tecnologia para contornar esse problema "e pode, tranqüilamente, atingir a marca dos 100 mil hectares".

Também é do resgate do algodão que depende a sobrevivência da Coceal, que há 18 anos atua exclusivamente na cotonicultura. Atualmente integram o projeto 32 agricultores, com área entre 48 a 235 hectares. Para atingir os 5 mil hectares está sendo realizado um trabalho de fomento junto aos cooperados da Integrada, Corol e Cofertacu, cooperativas singulares que integram a Central Coceal.

O pesquisador Wilson Paes de Almeida, que há 30 anos trabalha com algodão no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em Londrina, concorda com Montecelli quando o assunto é aumento de área. Ele alerta, no entanto, que essa probabilidade deve considerar fatores como clima e preço da fibra.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]