Como prometido há duas semanas, o assunto de hoje é a pressão negativa sobre os valores da saca de soja no Paraná. Não que se trate de uma grande novidade, pois o histórico do grão mostra que, entre 20 de fevereiro e 20 de março, os preços gostam mesmo de cair, num movimento natural que reflete o início do tempo de colheita e o aumento na oferta de produto novo para ser negociado.
O que ninguém podia imaginar é que os preços caíssem tanto e fossem bater nos mais baixos patamares desde o distante mês de maio de 2002. Para ser mais preciso, na quarta-feira da semana passada a saca de soja em Cascavel valia R$ 24,00, exatamente o mesmo preço registrado no dia 10 de maio de 2002. Em março do ano passado, o produtor conseguia vender essa mesma saca de 60 quilos por R$ 34,00.
As principais explicações para essa forte queda são a bem sucedida safra sul-americana e, principalmente, o aumento dos custos logísticos da operação com soja no Brasil, provocado, por sua vez, pela forte desvalorização do dólar frente ao real temas que, não por acaso, já foram abordados nesse mesmo espaço nas duas colunas anteriores.
A safra da América do Sul pressiona porque nunca o continente produziu tanta soja como neste ano. A soma dos volumes produzidos por Brasil e Argentina deve girar em torno de 95 milhões de toneladas, cerca de 5 milhões a mais do que o colhido em 2005.
A principal complicação deste ano, porém, está mesmo no câmbio. Como já foi dito aqui há um mês, ele é o coração do negócio da soja porque afeta diretamente os custos logísticos, principalmente o transporte, que, aliás, nunca foi tão caro para a soja. Por causa do real supervalorizado, neste mês de março a diferença entre os preços da soja em Cascavel e Paranaguá é de US$ 1,87 por saca, contra US$ 1,50 no ano passado e US$ 1,29 na média dos últimos cinco anos. Em 2002, essa diferença, que representa o custo logístico, era de apenas US$ 0,96 por saca.
No bolso do produtor, toda essa história significa o seguinte: mesmo com uma grande safra sul-americana entrando no mercado, em dólares, ele conseguiria vender sua produção neste mês de março a uma média de US$ 11,50 por saca, valor que está em linha com os US$ 11,26 da média dos últimos cinco anos. Mas como ele vende em reais, a história é um pouco diferente. O preço médio neste mês de março está em R$ 24,04, contra R$ 31,83 por saca na média dos últimos cinco anos.
Fernando Muraro Jr, é engenheiro agrônomo e analista de mercado da AgRural Commodities Agrícolas.
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