Enquanto o Brasil dá início ao plantio da nova safra de verão, produtores ainda não sabem ao certo como combater a Helicoverpa armigera – praga que dizimou lavouras de soja, milho e algodão na temporada passada. De um lado, a Monsanto afirma que a soja Intacta RR2 PRO oferece supressão e pode eliminar até 95% dos insetos. Do outro, pesquisadores rebatem que, por não ter sido desenvolvida especificamente para combater esse tipo de lagarta, não há garantias e que a única solução é o manejo integrado de pragas.
A Embrapa explica que os “genes encontrados nas plantas brasileiras não são eficientes para a Helicoverpa armigera, que era, até então, exótica e regulamentada como quarentenária A1, portanto, sem toxinas Bt registradas para seu controle”.
A opinião é compartilhada pelo pesquisador suíço Klaus Ammann, ex-membro da Comissão de Biossegurança do Governo da Suíça, da Federação Europeia de Biotecnologia, Conselho Europeu, Comitê de Conservação Vegetal. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele fala sobre os desafios da tecnologia Bt, a importância da biofortificação e derruba a ideia de que agricultura orgânica não poder ser feita em larga escala.
A biotecnologia é uma aliada ou uma causa à Helicoverpa armigera?
Pelo o que ouvi, [a tecnologia Bt] não está funcionando [contra a Helicoverpa armigera] no Brasil. Não porque desenvolveu resistência, mas porque existem 1,2 mil tipos de toxinas Bt que podem ser incorporadas às plantas. Para saber se uma determinada semente Bt oferece resistência a um tipo específico de lagarta, no caso a Helicoverpa armigera, essa semente deve ser testada especificamente para esse tipo de lagarta. E não foi o que aconteceu no Brasil. É verdade que quando uma determinada tecnologia GM é usada massivamente, com o passar dos anos os insetos vão desenvolvendo resistência. Mas isso ocorre em lavouras convencionais também.
A biotecnologia ainda não oferece alimentos mais nutritivos ou que previnam doenças. Quando isso vai acontecer?
A biofortificação já é uma realidade. O arroz dourado [arroz geneticamente modificado para produzir grandes quantidades do elemento beta-caroteno, que é convertido no organismo em vitamina A] é um exemplo. Foi desenvolvido com foco em países subdesenvolvidos, onde a alimentação é pobre em vitaminas essenciais. Estatísticas das Nações Unidas mostram que todos os anos 300 mil crianças morrem devido à deficiência de vitamina A, na Índia, nas Filipinas... Alguns argumentam: “Bem, elas deveriam comer vegetais, cenoura”. Não percebem que a população pobre não tem acesso a esses alimentos. Há testes em andamento nas Filipinas, mas deve demorar mais um a três anos para que o arroz dourado seja aprovado.
Por que a Europa tem se mostrado tão resistente ao cultivo e à adoção de lavouras GM?
A Espanha é uma exceção, mas o restante da Europa realmente é muito resistente aos transgênicos. E um dos motivos é que o nosso parlamento europeu tem um partido verde muito forte. É uma discussão política, que nada tem a ver com a ciência. Se você perguntar a um cidadão europeu se ele é a favor ou contra os transgênicos, a maior parte deles vai responder que é contra. Mas essa é mais uma resposta teórica, política.
É possível a coexistência entre modelos de produção que adotam sementes transgênicas e a produção orgânica e agroecológica, por exemplo?
Claro que é. Mais do que isso, não há motivo para que sementes transgênicas não sejam utilizadas em lavouras orgânicas. Essa interação [batizada de “organotransgênicos”] traria benefícios às duas culturas.
Justiça do Trabalho desafia STF e manda aplicativos contratarem trabalhadores
Parlamento da Coreia do Sul tem tumulto após votação contra lei marcial decretada pelo presidente
Correios adotam “medidas urgentes” para evitar “insolvência” após prejuízo recorde
Milei divulga ranking que mostra peso argentino como “melhor moeda do mundo” e real como a pior
Deixe sua opinião