O Brasil se dá o luxo de importar mais da metade do trigo que consome ao desestimular a produção nacional. O Caminhos do Campo mostra hoje que os produtores do Paraná, maior produtor do cereal no país, mais uma vez, decidem reduzir o cultivo.
Houve duas safras menores na última década, é verdade, e o recuo no plantio está diretamente ligado ao bom momento do milho. Mas, estrategicamente, o cultivo é essencial para viabilizar a rede de moinhos e para a própria rotação de culturas. Sem contar que, em muitas regiões, não se pode plantar milho no inverno. E as demais alternativas aveia, canola, cevada... ainda não têm força para substituir a triticultura.
A reclamação dos produtores é bastante conhecida. Não há liquidez nem preços remuneradores. O mercado do trigo se tornou dependente dos programas de apoio à comercialização do governo federal, que demoram para destravar o escoamento.
Para os moinhos, enquanto a Argentina continuar fornecendo matéria-prima e qualidade e relativamente barata, vale a pena importar. A alegação é que preços menores, de onde quer que venham, são salutares para o consumidor final, que busca qualidade e economia. Porém, em caso de quebra no país vizinho, essa lógica volta-se contra o mercado brasileiro.
Porém, as contradições do trigo não se resumem a isso. O que torna o trigo nacional menos competitivo são problemas logísticos, que dificultam o transporte da produção do Sul para o Nordeste. Além disso, a falta de um sistema de seguro que garanta a renda do produtor amplia os riscos de quem sabe que, se colher bem, mal cobrirá os custos.
O diferencial da agricultura do Sul é justamente a possibilidade de fazer duas safras por ano. Muito em função disso, as terras sulistas são mais caras, exigindo maior investimento na produção. Mas, sem o trigo, boa parte dos produtores simplesmente deixam a terra parada. Plantam apenas cobertura, quando poderiam estar gerando riqueza para o país. A expectativa é que, nos próximos meses, finalmente, surja um plano estratégico para encaminhamento das questões pendentes, em favor do pão brasileiro.