Um único município do Mato Grosso cultiva uma área de soja equivalente ao núcleo regional da Secretaria da Agricultura do Paraná (Seab) de Campo Mourão, que abrange 25 cidades. Sorriso, 400 quilômetros ao Norte de Cuiabá, é considerado o "gigante do agronegócio", o maior município produtor de soja do mundo. São 580 mil hectares cultivados com o grão, mais de 10% de toda a área plantada no estado, ou 58% do território do município.
Cortada pela BR-163, a cidade é o maior entroncamento rodoviário do Norte do Mato Grosso. Toda a soja tipo exportação do município desce à Paranaguá, num percurso superior a 2.200 quilômetros. Apesar da dificuldade logística, Nelson Luiz Piccoli, presidente do Sindicato Rural do município, ainda acredita que Sorriso está "no melhor ponto do mundo" para se produzir. "O que ainda falta é aumentar a rentabilidade, com a redução de custos."
Apesar de a prefeitura não ter muito o que fazer em termos de infra-estrutura para o agronegócio comercial, Fabiano Alves Marson, secretário da Agricultura de Sorriso, concorda com o produtor. Ele explica que, literalmente, a grande saída para agregar valor à soja do município é a conclusão da BR-163 com recursos federais, para exportar o grão pelo porto de Santarém, no Pará. Enquanto isso não ocorre, o recurso são as políticas ao alcance do poder público municipal, como a melhoria e manutenção das estradas rurais. Além disso, através de incentivos fiscais, a prefeitura de Sorriso tenta atrair agroindústrias ao município, como esmagadoras de soja e usinas de biodiesel. Outra alternativa é transformar milho e soja em carne, com a ampliação dos abates de suínos e aves.
Fabiano Marson tem família em Londrina e trabalhou em Campo Mourão. Nelson Piccoli, do Sindicato Rural, era agricultor em Campo Erê (SC), na divisa com o município de Marmeleiro (PR). Em Sorriso, planta 850 hectares de soja e milho e dirige um sindicato em que 95% dos 370 associados vieram da Região Sul.