Contra fatos não há argumentos e diante de números só nos resta a constatação. O grão, o óleo e o farelo, cesta que sustenta o tripé do complexo soja, têm agora um novo componente, o combustível, ou melhor, o biocombustível. O governo federal bem que tentou, continua a insistir, mas não consegue emplacar matérias-primas alternativas, como mamona, pinhão-manso, óleo de palma, entre outras oleaginosas. A única fonte representativa, depois da soja, é o sebo bovino. E ainda assim, com uma participação que fica em apenas 10%. Além disso, quem deveria abastecer o programa é a agricultura familiar e não a empresarial.
Mas, apesar de sustentar um modelo econômico bastante questionável, hoje a soja é responsável por 80% da produção de biodiesel no país. Em área, para atender a demanda do B5 (adição de 5% de biodiesel ao diesel comum), são necessários quase três municípios de Sorriso, no Mato Grosso, o maior produtor mundial da oleaginosa, com 600 mil hectares. Ou então 1/3 da área total cultivada no Paraná, que na safra anterior somou 4,5 milhões de hectares. Para colocar no mercado 2,5 bilhões de litros de biodiesel, é preciso destinar quase 5 milhões de toneladas de soja.
Contudo, era de se esperar, pelo menos, que a nova utilização da soja influenciasse as cotações da commodity, o que não ocorre. Cresce a demanda por biodiesel e consequentemente pela soja, mas ainda sem força para pressionar preço e mercado. Por enquanto, porque no médio prazo, isso deve acontecer. A meta do governo é ampliar a mistura para 15%, triplicando a demanda por oleaginosas, num cenário em que outras fontes podem até ganhar espaço, mas a dependência continuará sendo da soja. Então, assim como o milho nos Estados Unidos, a soja no Brasil continua a ser sinônimo de alimentação, humana e animal, mas ganha também o status de energia.
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