A queda na produção de sementes, reflexo da estiagem do verão passado, não é motivo de preocupação no campo. Mesmo com o aumento da área de plantio de soja, os agricultores estão encontrando a quantidade necessária de cultivares. A falta de variedades de ciclo precoce não deve impedir que a colheita ultrapasse 81 milhões de toneladas, conforme projeção da Expedição Safra Gazeta do Povo.
De acordo com a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem) e a Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem), não há registro, por parte de cooperativas e produtores, da falta de sementes. A quantidade disponível do insumo no mercado é semelhante a da safra passada. No Paraná, a Apasem calcula produção de 200 mil toneladas para esta safra, contra 210 mil toneladas na temporada anterior.
"Não temos informação de falta", diz Narciso Barison Neto, presidente da Abrasem. "Houve a diminuição da produção em alguns lugares como a região Oeste [do Paraná], onde tivemos retração de 700 mil sacas [de 50 quilos] para 360 mil sacas. Mas ocorreu a compensação em outras partes do estado", complementa o diretor executivo da Apasem, Eugênio Bohatch.
É o caso da cooperativa Coamo, de Campo Mourão, que produz semente de soja para fornecer aos 24 mil associados. A empresa conseguiu recuperar as perdas em áreas produtoras atingidas pela estiagem com o incremento em outras regiões. "Aqui está tranquilo", afirma Roberto Destro, responsável pelo departamento de sementes da cooperativa.
A garantia no fornecimento também é observada em outros estados. O gerente técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso, a Aprosoja-MT, Nery Ribas, percorreu o estado nas últimas semanas e não registrou nenhum caso de agricultor sem semente. "Não houve relato da falta de cultivares com os produtores que conversamos", diz. Segundo Ribas, a reclamação dos produtores de soja é referente à data de entrega. "Em alguns casos o grão chegou na véspera do plantio. Também teve casos de sacas que vieram com dois quilos a menos que o anunciado", relata.
Qualidade
Se o oferta não é problema, a qualidade das sementes nesta safra pode deixar a desejar. Os 70 dias sem chuva na safra anterior, a alta temperatura e a baixa umidade do ar interferiram no desenvolvimento dos grãos. O que poderá interferir na próxima colheita, com um potencial de produção menor. "A qualidade do grão foi afetada, tanto que alguns lotes foram reprovados. O reflexo pode ocorrer na produtividade", diz Marcelo Steffen, gerente comercial da BrasMax, empresa especializada no desenvolvimento de cultivares de soja.
A empresa registrou, em média, queda de 13% na produção de sementes. No Paraná, o índice foi de 10%, enquanto no Rio Grande de Sul, o estado mais afetado pela estiagem, bateu na casa dos 17%. A Brasmax tem 95% do seu mercado consumidor na Região Sul e em Mato Grosso do Sul. As empresas Monsato e Dow AgroSciences foram procuradas pela reportagem, mas não informaram qual sua avaliação sobre o assunto.
Entrega de fertilizante continua atrasada
O fornecimento de sementes está garantido para a atual safra, mas os produtores de soja encontram dificuldade para conseguir adubo. Em diversos estados, há relatos de atraso na entrega ou até mesmo cancelamento por parte dos fornecedores, que não estariam conseguindo atender a alta demanda, reflexo do crescimento da área de plantio da oleaginosa.
"As empresas estão alegando dificuldades na entrega. O atraso passa de 30 dias. A solução encontrada pelo produtor está sendo partir para outros fornecedores", conta o gerente técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Nery Ribas.
Parte do fertilizante que será utilizado na safra 2012/13 está parada no Porto de Paranaguá, porta de entrada de 40% de todo o insumo deste tipo utilizado no país. Até o início da tarde de ontem, mais da metade dos 49 navios que estavam ao largo da Baía de Paranaguá à espera para atracar estava carregada com o produto. Há embarcações esperando há mais de 70 dias.
Outras causas apontadas pelo setor para o desabastecimento no campo são a greve dos fiscais agropecuários, que dificulta a liberação da carga, o aumento da área de plantio de soja e a nova Lei do Caminhoneiro. As regras que entraram em vigor em junho passado, segundo a própria categoria, diminui a produtividade do caminhão. A jornada de trabalho está limitada a 10 horas para os contratados e a 12 horas para os autônomos. Outra exigência são intervalos de 30 minutos a cada quatro horas trabalhadas e um repouso ininterrupto de 11 horas a cada 24 horas.
Apesar dos problemas encontrados no campo, a venda de fertilizantes entre janeiro a setembro deste ano cresceu 4,1% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).