José Seleme, co-fundador e presidente da Endeleza Internacional; e a diretora de projetos da ONG, Letícia Usanovich.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Ao lado do sal e do alho, a cebola é um dos principais temperos do mundo. De pratos simples às misturas sofisticadas, ela não só está presente, como é determinante na qualidade e no sabor final do alimento. Mas não é só isso. Graças à criatividade de uma ONG de Curitiba, a cebola será um agente de transformação social no Quênia, país da África Oriental.

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No fim deste mês, começa a colheita de 60 toneladas de cebolas plantadas em dois hectares de terra localizados no interior do terreno da Escola Primária de Mugae, localizada a 270 quilômetros de Nairóbi, capital do país. Esta primeira safra dá o ponta pé inicial no programa Escola Primária Superior (EPS), executado pela Endeleza Internacional, uma organização não governamental formada por jovens, que desde 2011 tem atuado no Quênia para ajudar na inclusão de crianças no ensino primário.

De Curitiba, a Endeleza Internacional é uma organização não governamental formada por jovens, que desde 2011 tem atuado no Quênia para ajudar na inclusão de crianças no ensino primário.  
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De acordo com José Seleme, co-fundador e presidente da entidade, a ideia de usar a agricultura para financiar o projeto surgiu da necessidade de quebrar o vínculo de dependência entre as comunidades locais e as doações, que caíram desde o início da crise financeira. “O nosso objetivo sempre foi a autossuficiência, queríamos encontrar uma fonte própria de geração de recursos no Quênia. A queda nas doações só aceleram esse processo”, explica.

Conheça mais sobre o trabalho da Endeleza Internacional

A diretora de projetos da ONG, Letícia Usanovich, conta que vários fatores pesaram na escolha da cebola. “Nós precisávamos de um produto de ciclo rápido e de alta durabilidade. A cebola rende três safras por ano. E se bem armazenadas, duram até 90 dias. Metade da cebola usada no Quênia é importada da Tanzânia, o que demonstrou uma deficiência na produção local”, afirma. Segundo Letícia Usanovich, a ONG contou com o apoio de técnicos e consultores, que ajudaram nos estudos de mercado e análises de clima e solo.

No fim deste mês, começa a colheita de 60 toneladas de cebolas plantadas em dois hectares de terra localizados no interior do terreno da Escola Primária de Mugae. 

Expectativa é que até 2020 mais de US$ 1 milhão de dólares sejam arrecadados e convertidos em benefícios por meio do projeto. “Nossa expectativa é arrecadar US$ 70 mil nesta primeira safra. Dinheiro suficiente para manter a alimentação dos alunos, pagar o salário de três professores e acelerar a nossos projetos de melhoria na infraestrutura da escola, como construção de uma cozinha, compra de uniformes”, diz José Saleme. Ao todo, 250 crianças e 70 famílias são assistidas pela ONG neste projeto.

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Segunda a Endeleza Internacional, que também tem uma sede no Quênia, nos próximos quatro anos, todos os recursos gerados por meio da agricultura vão garantir, em longo prazo, a autossuficiência da escola, que atualmente atende alunos entre 3 e 15 anos em oito anos de ensino primário, além de dois anos iniciais de pré-educação. Como as famílias dos alunos serão responsáveis, no futuro, pelo gerenciamento do programa, com a renda adquirida será possível não só manter o funcionamento da escola, mas também gerar postos fixos de trabalho - professores e funcionários responsáveis pela colheita.

Quênia

O sistema educacional do Quênia, apesar de público, não é gratuito. Lá, a população é encarregada de custear as despesas que os filhos têm na escola, como merenda, material didático e uniforme, além do salário dos professores.

No entanto, são poucas as famílias que conseguem arcar com os custos da educação. De acordo com dados de 2014 da UNESCO, o Quênia é um dos países com maior número de crianças fora da escola, contabilizando mais de 1 milhão. Apesar da expectativa de que uma criança tenha vida escolar de no mínimo 11 anos, lá a média nacional cai para 6.

“O modelo de acesso ao ensino me chocou. O fato daquelas crianças não poderem estudar por questões econômicas que para nós não eram tão pesadas. Com R$ 70, eu mantinha uma jovem estudando com café da manhã, almoço e janta, me fez querer ajudar. E quando eu contei isso para as pessoas, isso foi aumentando. Foi quando decidimos fazer da maneira correta e montamos a ONG”, conta José Seleme, que se interessou pelo país africado ainda na faculdade, em 2011.

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