Primeiro Ciclo de Palestras reuniu mais de 100 pessoas no Show Rural. Evento é realizado em parceria com Ocepar e a Faep| Foto: Christian Rizzi/gazeta Do Povo

Os países líderes na produção de grãos – Estados Unidos, Brasil e Argentina – têm colheita limitada há dois anos e, às vésperas da temporada norte-americana 2013/14, se deparam com novos problemas climáticos. A falta e o excesso de chuva seguem como ameaças à produção sul-americana de grãos, afirma o meteorologista Luiz Renato Lazinski.

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Por outro lado, podem favorecer os produtores brasileiros. Na avaliação do analista Vinicius Xavier, uma quebra na safra argentina deve render boas oportunidades de venda no Brasil durante o primeiro semestre do ano. Para o milho, contudo, a tendência é de preços mais fracos ao longo de 2013.

Em entrevista após participação no Ciclo de Palestras Informação e Análise do Agronegócio que a Gazeta do Povo realizou no Show Rural Coopavel na última semana, os especialistas falam sobre os desafios e as oportunidades que o clima impõe ao mercado de grãos nesta temporada.

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ENTREVISTA

Vinícius Xavier, analista da consultoria FCStone

Em 2012 os produtores foram brindados com cotações recordes. Dá para esperar preços tão altos assim em 2013?

No ano passado o mercado foi muito orientado pela demanda. Os EUA tiveram uma grande quebra de safra e o consumo de soja surpreendeu. Esse é um dos fatores que justifica o mercado estar testando os US$ 15 por bushel na Bolsa de Chicago. Mas agora, com a entrada da safra sul-americana, esse cenário muda um pouco.

Como?

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Com produção praticamente consolidada, Brasil e Paraguai vão colocar cerca de 90 milhões de toneladas de soja no mercado. A Argentina ainda é uma incógnita. Mas mesmo que colha 44 milhões e não 54 milhões de toneladas,  a América do Sul ainda vai colocar no mercado perto de 140 milhões de toneladas, um volume bem maior do que no ano passado [111 mi/ton]. Isso é um fator baixista nas cotações.

O melhor momento para vendas já passou?

No curtíssimo prazo pode ser que haja um novo pico de preços em função de Argentina, mas conforme a safra brasileira entrar no mercado haverá pressão forte sobre as cotações internas porque a nossa logística de armazenamento e escoamento é deficiente. No segundo semestre existe naturalmente um movimento de crescimento dos preços. Só que esse crescimento pode ser minorado se tivermos um cenário de clima melhor nos EUA.

E o milho?

No milho, o que vinha sustentando as nossas cotações era mais a demanda externa. Nós tivemos uma safrinha recorde e ainda assim tínhamos preços muito altos. A partir de agora,  todos os portos estão voltados para a exportação de soja. A nossa exportação de milho tende a cair com força. Isso abre espaço para preços mais debilitados no primeiro semestre.

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E o que esperar da safra norte-americana 2013/14?

Consultorias privadas já estão trazendo algumas estimativas. Uma delas, da Informa, é de ganho de área tanto para a soja quanto para o milho. Se esse incremento se consolidar, abre espaço para que os EUA tenham produtividades medianas e, ainda assim, consigam uma certa recomposição de seus estoques.

Luana Gomes

ENTREVISTA

Luiz Renato Lazinski, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)

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A falta de chuva em janeiro afetou a produtividade do Sul do Brasil?

Nós tivemos um início de safra já com problema em agosto e setembro. Em novembro, houve novamente falta de chuva. Em seguida, um pequeno El Niño trouxe chuvas, mas logo foi embora e voltamos à situação de neutralidade climática.

O Sul ainda depende de mais um mês de chuva...

O produtor deve esperar uma situação de irregularidade climática. As chuvas não devem ficar abaixo da média, mas concentradas em dois, três ou quatro dias. Outra questão: em anos neutros como esse, as frentes frias chegam antecipadamente, com risco de geadas a partir de maio e junho.

É essa mesma neutralidade que leva excesso de chuva ao Centro-Oeste?

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Exatamente. Os sistemas que distribuem a umidade amazônica e alimentam as frentes frias que passam pelo Sul não estão funcionando. Então essa umidade fica concentrada no Centro-Oeste. Está descendo apenas até o Norte e ao Oeste do Paraná.

Há risco de perdas expressivas?

Na comparação com o ano passado, o clima está sendo melhor para a safra de verão. Mas na safra de inverno deve ser pior. O que posso dizer é que não teremos um clima redondo, com risco de falta de chuva na safrinha.

E a situação da Argentina é realmente complicada?

O país começou a safra de verão com excesso de chuva, que atrapalhou o plantio. Inclusive muitas áreas tiveram de ser replantadas. Quando a chuva parou, parou de vez. Com certeza teremos mais um ano de quebra de safra na Argentina.

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Em relação aos EUA, o que há de confirmado sobre a falta de chuva na próxima temporada?

Os EUA estão com problemas sérios. O país já veio da safra passada com falta de chuva. As culturas de inverno já estão sofrendo e devem ter quebra na produtividade. Estão ocorrendo nevadas muito fracas, que não estão repondo umidade do solo para abril e maio, quando começa ou plantio da próxima safra de verão.

José Rocher