Depois de rodar milhares de quilômetros, ouvir dezenas de produtores e visitar outras dezenas de propriedades rurais, em todas as regiões do estado, a impressão que se tem é de que otimismo é a palavra mais correta para definir o sentimento do campo neste momento. Confiante de que é chegada a hora de retomar o crescimento, o agricultor segue seu destino. Após dois anos consecutivos de prejuízos, ocasionados por motivos climáticos e financeiros, ele sabe que não tem estrutura para suportar um novo revés. E para não correr esse risco, aposta todas as suas fichas na boa expectativa sobre a próxima safra.
Sua esperança vai além do fato dele ser otimista por natureza. Existe todo um contexto que sinaliza para um desempenho mais satisfatório da atividade. Entre os fatores positivos está o clima e o custo de produção. Apesar da precipitação ainda estar abaixo da ideal, a meteorologia garante que as chuvas serão mais regulares de que nas duas últimas safras, quando, por causa da estiagem, o Brasil acumulou perdas na produção de grãos que somam R$ 3,3 bilhões. Outra boa notícia é que os preços dos principais insumos recuaram, da semente ao fertilizante.
O cenário animador, no entanto, não se reflete em euforia. Cada vez mais cauteloso, o produtor sabe que para tirar o pé lama é preciso colocar o pé no freio. De um modo geral, nunca se fez tantas contas na lavoura. Não se fala em outra coisa senão planejar, otimizar e reduzir custos da porteira para dentro. É a única maneira de fazer frente aos problemas encontrados da porteira para fora. Um exemplo é o câmbio desfavorável, que prejudica as exportações e tira a competitividade da produção nacional. Sem falar dos temas extra-campo, que no Paraná extrapolam os limites da discussão técnica e ponderada para assumir um caráter político-ideológico, como a polêmica dos transgênicos e do Porto de Paranaguá.
Mas a necessidade de produzir fala sempre mais alto, mesmo porque, o agricultor não tem outra saída. Esse é o seu negócio, ele não sabe fazer outra coisa. Hoje são 300 mil produtores paranaenses de pequeno, médio e grande porte na base de uma cadeia produtiva que representa 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB) do estado, o que significa que a crise no campo já respinga na cidade. Ou seja, quando o dinheiro do agronegócio deixa de circular, a conta também começa a ser paga pela população urbana, com o recrudescimento da atividade econômica comércio e indústria e a conseqüente queda na arrecadação municipal.
Para colaborar com essa discussão, o Caminhos do Campo traz, a partir desta edição, uma série de reportagens que tem como objetivo traduzir essa realidade. Uma equipe de técnicos e jornalistas viajou o Paraná para mostrar as dificuldades do setor, a importância do agronegócio na geração de riquezas no estado e antecipar as tendências da próxima safra, que já começa a ser cultivada. Este aliás, é o grande diferencial desse trabalho, que começa quando o produtor está iniciando o plantio. Outras trabalhos nesse sentido, como o Rally da Safra, da Agroconsult, por exemplo, acontecem no final do ciclo, quando a safra começa a ser colhida.