Bem no interior do estado da Geórgia, há um local conhecido como a “cidade da vida mansa”. É uma região repleta de nogueiras e campos de algodão, que deram origem ao comércio no Sul dos Estados Unidos. Com certeza, não é o arquétipo de um lugar repetidamente destruído por catástrofes naturais.
No entanto, nos últimos dois anos, Albany foi atingida três vezes por fenômenos devastadores. Primeiro um tornado passou pela cidade em janeiro de 2017 deixando em pedaços tudo o que encontrou num raio de 11 quilômetros, além de um saldo de 5 mortos. Oito meses depois veio o furacão Irma, que atingiu as plantações da região. E na semana passada, foi a vez do furacão Michael deixar a comunidade local em estado de choque, derrubando carvalhos e pinheiros e danificando centenas de casas. O resultado foi a destruição de prédios públicos e das plantações de nozes e campos de algodão. Mais da metade da cidade ainda está sem energia elétrica.
“Albany se tornou a ‘cidade do azar’. Aqui a miséria é abundante”, lamenta Matthew Eisley, 50 anos, que é consultor de comunicações em Raleigh, Carolina do Norte, mas que cresceu na cidadezinha de 75 mil habitantes. “Os moradores de Albany são orgulhosos e continuam lutando - e sempre vão lutar. Mas agora eles estão precisando de ajuda, muita ajuda”.
A série de catástrofes naturais testou o apelido da cidade, adicionando um enorme estresse e bolsões de pobreza e criminalidade ao município - cerca de 30% dos moradores estão vivendo em situação de miséria, segundo o censo.
Os agricultores nos arredores da cidade também sentiram o baque. Eles produzem boa parte do estoque de nozes-pecã dos Estados Unidos e de algodão da Geórgia. O estado, aliás, é o segundo maior produtor de algodão do país, só perdendo para o Texas, de acordo com informações do Departamento de Agricultura.
US$ 2 bilhões
O dano causados pelas intempéries foi tão grande que o Departamento de Agricultura da Geórgia estimou em US$ 2 bilhões o prejuízo para a economia do estado. Para se recuperar, autoridades e produtores rurais dizem que será necessária uma ajuda do governo federal.
“Essa provavelmente seria uma das maiores safras da história”, diz Justin Jones, que tem 2.600 acres de algodão e 500 acres de noz-pecã plantados na região de Albany. O tempo bom deste verão, com a quantidade certa de chuva, criou as condições perfeitas para uma boa colheita, segundo ele. Mas o furacão Michael inutilizou boa parte da safra.
Muitas das plantas de processamento e pontos de venda de amendoim e nozes foram danificados, segundo informações oficiais. Os produtores estimam que 80% dos pivôs de irrigação das fazendas ao sul de Albany foram virados.
“A porrada não poderia ter sido pior. Não há nada que possamos vender para recuperar o prejuízo. Tudo se foi”, afirma Jones. “Sou produtor rural independente há 15 anos e posso ter perdido tudo que conquistei em um período de seis horas... Vamos precisar de algum tipo de assistência ou orientação”, acrescentou.
As autoridades temem que as tempestades estanquem o progresso alcançado nos últimos anos no sentido de revitalizar o centro da cidade e a região próxima ao lago Chehaw - um esforço para aumentar o número de negócios e de empregos. Os planos de criar uma linha de trem para conectar outras regiões ao centro também parece ter sido adiado outra vez.
“Temos sido derrubados mais e mais vezes. Parece que estamos sempre no modo de recuperação”, diz Dorothy Hubbard, prefeita com dois mandatos e primeira mulher afro-americana a ocupar o cargo.
Por outro lado, a cidade mostra resiliência, com a comunidade se organizando e ajudando uns aos outros. “A coisa boa de se viver em uma cidade do sul como Albany é que todo mundo se ajuda”, afirma o comerciante local Bo Henry.
Incrustada numa região agrícola, a cidade desenvolveu uma economia industrial diversificada, com a presença de grandes companhias como Proctor & Gamble, MillerCoors e Mars Chocolate North America, produtora dos chocolates M&Ms e Snickers.
Herb Benford, 70 anos, veterano da Guerra do Vietnã teve sua casa derrubada pelo furacão Michael. Os ventos fortes derrubaram um pinheiro de 40 metros que ficava no quintal dele, dividindo ao meio a casa em que vivia com a esposa. A mesma casa, em um terreno de 4 acres, que foi inundada pela enchente de 1994, que ocorreu após a passagem da tempestade tropical Alberto. A propriedade alagou de novo quatro anos depois, após outra tormenta semelhante.
“Ganhei um novo apelido recentemente. Eles me chamam de ‘Herb da casa dividida’”, brinca, mantendo o bom humor enquanto trabalha na reconstrução da residência. “Não posso controlar isso. Então vou reconstruir a casa e vou continuar aqui”, diz Benford, que dá uma aula de resiliência a quem poderia pensar que ele estaria arrasado com a situação. “Tem gente que está numa situação muito pior do que a minha. Então por que eu iria reclamar?”