Estoque
Um estoque de 12 milhões de toneladas de algodão mantido pela China torna os preços do produto oscilantes. O volume é 2,2 vezes maior que o estoque mundial de cinco anos atrás e representa 55% do estoque global atual. Freio na produção e estímulo ao consumo seriam as saídas.
Mercado
O algodão é especialidade asiática, com China e Índia respondendo por metade da produção de cerca de 25 milhões de toneladas ao ano. Com 1,5 milhão (6%), o Brasil é o quinto maior produtor, mas tem o mercado interno “infestado” pelos fios sintéticos.
A produção de algodão do Paraná já chegou a 50% do volume nacional, em 1991/92, mas caiu a praticamente zero por razões técnicas. O estado completa uma década de colheita insignificante -- de 1% ou menos da safra nacional --, mas ainda mantém um parque industrial representativo. Em oito indústrias, emprega 2 mil pessoas e produz 60 mil toneladas de fios, que agora estão amargando as consequências da crise econômica. Uma campanha nacional de estímulo ao consumo do algodão – reduzido pelo uso de fios sintéticos – promete sobrevida ao setor.
A campanha foi lançada no 10.º Congresso Brasileiro do Algodão, realizado no início deste mês em Foz do Iguaçu, e busca envolvimento do setor, conta o diretor de Marketing Estratégico da Bayer CropScience para Algodão, Fernando Prudente.
Ele afirma que a redução no uso do algodão é um fenômeno mundial. “Desde década de 60, nossa participação no mercado de fibra caiu de 60% para 32% no mercado global. Países como os Estados Unidos conseguiram manter o algodão em 45% com campanhas que estimulam o uso do produto. No Brasil, o share é de apenas 20%, o que mostra que temos sim como ganhar espaço.”
As novas tecnologias e a queda no preço no petróleo, fatores que tornam os fios sintéticos mais baratos que os de algodão, serão combatidos com informação, afirma o executivo. A intenção é mostrar para grupos de jovens entre 12 e 25 anos e mulheres de todas as idades que o algodão tem vantagens como conforto e poder de absorção. Hoje, no mercado brasileiro, o produto sustenta espaço comparado ao que detém nos Estados Unidos somente entre homens acima de 40 anos ou em segmentos como o de roupas de cama e banho, aponta Prudente.
Sobrevivência
Na lavoura de algodão, dificilmente o Paraná voltará a ganhar importância, aponta o analista da Organização das Cooperativas do estado (Ocepar) Robson Mafioletti. Com chuva na colheita, o estado não consegue competir em qualidade com regiões que avançaram em novas tecnologias e fizeram a colheita nacional dobrar nas últimas duas décadas, com previsão de 1,5 milhão de toneladas em 2014/15 (pluma). Mas as indústrias têm suas vantagens. “Como não estão mais ligadas a um grupo de produtores, podem comprar só a matéria-prima com perfil adequado à demanda, não tem sobras como antigamente”, observa.
Para sobreviver, o setor está se adaptando às novas tendências, conta gerente comercial de Fibras da Cocamar, Nilton de Camargo. A indústria de fios da cooperativa começou a usar material sintético em 2002. “Das 750 mil toneladas de matéria-prima que usamos por mês atualmente, 550 mil são de algodão e cerca de 200 mil são de produtos sintético.” O fio de poliéster obtido com a reciclagem de garrafas pet chega a representar 20% da produção. O algodão vem principalmente de Mato Grosso e os fardos de plástico, de São Paulo.
Mesmo assim, um crescimento no consumo interno de algodão será bem vindo, mesmo que ocorra apenas no longo prazo, afirma o executivo. Ele relata que o aumento nos custos de produção, puxado por itens como a energia elétrica, colocam o setor em situação de aperto sem precedentes. “Com a alta do dólar, os fios nacionais ficam mais competitivos, mas a indústria que atende redes de confecção ainda se baseia na importação. Até que haja uma virada, com uso maior do fio nacional, arcaremos com os problemas de um dólar alto e não teremos os benefícios de uma indústria nacional mais competitiva”, explica. Em sua avaliação, serão necessários cerca de seis meses para essa virada.
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