• Carregando...
As três gerações da família reunidas. Da esquerda para direita: Isidoro, Emílio e Alexandre Dzierwa. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
As três gerações da família reunidas. Da esquerda para direita: Isidoro, Emílio e Alexandre Dzierwa.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

‘Ah, vá plantar batata!’, pode até soar pejorativo. Mas não para a família Dzierwa, de Contenda, na região metropolitana de Curitiba. Na verdade, é exatamente isso o que eles fazem. Exclusivamente. Há 30 anos.

“Uma vez, quiseram me chamar de ‘polaco batateiro de Contenda’ e eu respondi: ‘ué, mas a gente é mesmo’”, brinca Alexandre Dzierwa, de 29 anos, o produtor caçula de uma tradição rural que já está na terceira geração.

Os Dzierwa chegaram a Contenda ainda no século 19, vindos da Polônia. Mas foi o avô do Alexandre, o seu Isidoro, quem começou com a atual “Fazenda 1960”, isso há quase 70 anos. De início, ele trabalhava com outros alimentos também, focado mais no comércio dentro da própria região, mas é claro que, como reza a vocação polonesa, batata era item obrigatório. Com o tempo, porém, a atividade foi ficando mais especializada e, já com o filho dele e pai do Alexandre, Emílio, é que a propriedade passou a cultivar unicamente batata.

Tradição

Com forte presença de alemães e poloneses, o Paraná já teve em seu mapa a capital da batata: Contenda. Hoje, no entanto, com mais produtores dedicados a culturas consideradas mais lucrativas, o estado está na vice-liderança nacional, com mais de 820 mil toneladas colhidas, ou 23% da produção brasileira. Minas Gerais, que, na safra 2015, alcançou 1,2 milhão de toneladas ocupa o primeiro lugar.

Batateiros profissionais

Por conta do grande volume de produtores, Contenda era conhecida como Capital da Batata, com placa na entrada da cidade e tudo, mas, conforme o agronegócio foi se profissionalizando no Paraná, muitos acabaram migrando para culturas consideradas mais lucrativas. Não os Dzierwa. Para eles, a chave foi a adaptação. “Aqui, nós tínhamos dificuldade em produzir a batata lavada, que o consumidor começou a procurar, por causa da característica da terra, que era mais difícil de lavar. Então, passamos a vender para a indústria”, conta Emílio.

Hoje, das 8 mil toneladas que eles produzem por ano, quase tudo vai para as fábricas, principalmente de salgadinhos. Entretanto, num ambiente tão competitivo e de mudanças tão rápidas, como o agronegócio, apostar num único produto pode ser um risco, reconhece a família. Emílio fala na possibilidade de incluir outras culturas em sistema de rotação, mas, para o filho, Alexandre, a solução é buscar mais uma vez a adaptação, em novas frentes dentro da própria cadeia produtiva da batata. “É como um médico especialista”, define.

Batata que vale ouro.Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Volta ao passado

Foi daí e a partir das sugestões e pedidos de amigos, que têm lanchonetes em Curitiba, que o Alexandre começou a testar uma receita de batata pré-frita, há mais ou menos seis meses. Num mercado dominado por grandes marcas, os polacos de Contenda optaram por voltar às origens, lá do seu Isidoro Dzierwa.

“Nossa ideia é buscar o comércio local, criar vínculos: assim, o dinheiro circula aqui na região e as pessoas sabem de onde vem o alimento que estão comendo”, explica.

E gente interessada é o que não falta. Dos 20 kg que eles entregaram nas primeiras semanas de testes, passaram agora a mais de 2 toneladas/mês e a meta é ampliar a fabricação para 5 toneladas/mês até o segundo semestre de 2017.

“A gente busca essa coisa artesanal, do produto feito à mão, sem nenhum conservante, porque a distância para entregar é mais curta”, diz Alexandre. “É uma tendência de mercado que existe e é forte. Cerveja artesanal existe, e nem por isso as pessoas deixam de consumir grandes marcas. Hamburgueria também. E por que a batata frita não?”

  • A Fazenda 1960 começou com o seu Isidoro (ao centro), o patriarca dos Dzierwa: à esquerda, um dos quatro filhos, Emílio, e à direita o neto, Alexandre.
  • Engenheiro agrônomo de formação, há sete anos Alexandre cuida das plantações de batata da família.
  • Mas com o tempo, além de lavoura, ele teve que aprender a lidar com comércio, marketing e mercado para posicionar o produto entre os consumidores.
  • Detalhe da flor de batata.
  • A colheita anual dos Dzierwa chega a 8 mil toneladas.
  • Como as lavouras semeadas com batata necessitam de aproximadamente três anos de “repouso” após a colheita, para evitar doenças, os Dzierwa trabalham com 400 hectares arrendados na região.
  • Esta lavoura, por exemplo, fica em Palmeira, mas eles também plantam na região da Lapa.
  • Depois de colhida, a batata é descarregada na fábrica de beneficiamento, já em Contenda.
  • Elas são lavadas em esteiras, para retirar o excesso de terra.
  • Todas as batatas colhidas passam por esse processo.
  • Após o “banho”, chega a hora de mais uma seleção, para descartar aquelas que não têm tamanho adequado ou ainda estão muito verdes.
  • No caso das batatas que vão para o mercado, o descarte chega a 20% da produção, por causa da exigência dos consumidores.
  • Para a indústria, contudo, o aproveitamento é muito maior: apenas 5% são descartados.
  • Ao todo, a Fazenda emprega 50 funcionários de forma direta, com carteira assinada.
  • Atualmente, até pela intenção de manter um comércio local, somente uma pequena parte da produção vai para a pré-fritura. Mais uma vez, as batatas são lavadas, para retirar o excesso de amido. É a famosa “água de batata”. Depois, são aquecidas, para eliminar as enzimas que escurecem o produto. Só então, vão para a frigideira.
  • O próximo destino é o refrigerador, a 30 graus negativos.
  • Todo esse cuidado faz com que a batata fique macia por dentro e crocante por fora.
  • No final, elas são embaladas. A fazenda trabalha com duas variedades: batatas palito e batatas rústicas.
  • No prato, com a casca (rica em vitamina), o acompanhamento perfeito para quase toda receita.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]