Lar de algumas das maiores fazendas do mundo, o Brasil está muito aquém de uma revolução digital para automatizar sua agricultura. E tudo pela “pura e simples” ausência de uma rede de comunicação viável em áreas rurais. Entretanto, pelo menos uma montadora – que vem de fora do país e está sedenta por vender equipamentos de alta tecnologia - está tentando avançar nesse terreno, para ajudar a construir um sistema de cobertura wireless.
A gigante norte-americana John Deere lançou um programa para conectar o Brasil rural. A empresa se juntou à Tropico - fornecedora no segmento de telecomunicações – para vender torres e antenas país adentro, nos locais aonde o serviço de internet não chega.
Outras fabricantes têm adotado estratégias parecidas. A AGCO, dona da Massey Ferguson, está explorando a possibilidade de conectar seus equipamentos via satélite, nas regiões em que a rede de celular não está disponível.
Em ambos os casos, a ideia é habilitar os gerentes das propriedades a monitorar o campo remotamente e em tempo real, analisando dados e tomando decisões sobre os calendários de plantio e colheita.
Os produtores vão pagar para instalar as antenas. Uma vez que eles estejam conectados, a John Deere acredita que os operadores irão se alinhar aos benefícios dos tratores conectados e outros equipamentos necessários para aproveitar 100% da agricultura de precisão.
“Queremos fazer isso acontecer rapidamente”, afirma Sam Allen, CEO da John Deere, maior fabricante de máquinas agrícolas no planeta e que fez da agricultura de precisão o seu foco.
A agricultura de precisão se refere à adoção das tecnologias de GPS, Big Data e inteligência artificial para impulsionar as produtividades nas lavouras. Ela já é um negócio em franca expansão, com crescimento global estimado em 14% ao ano, chegando a US$ 10 bilhões em 2025. A lacuna das telecomunicações em áreas rurais no Brasil deixa o país com um atraso de anos em relação à agricultura de precisão.
Califórnia brasileira
Enquanto o Centro-Oeste - nosso principal cinturão produtivo - é conhecido lá fora como a “Califórnia Brasileira”, as conexões de dados e telefonia no Cerrado são tão frágeis que mesmo uma simples ligação de celular acaba se transformando num desafio, diz Walter Maccheroni, gerente de inovação da fazenda São Martinho, uma das maiores exportadoras de açúcar do país.
O Brasil é o principal exportador mundial de soja, café e açúcar, graças à expansão agrícola no Cerrado nas últimas décadas. Contudo, a falta de conectividade significa que os produtores não podem acessar dados de plantio ou colheita em tempo real. Uma usina de açúcar e etanol 100% conectada no Brasil poderia ter ganhos bilionários em eficiência, saltando de US$ 5 bilhões para US$ 21,1 bilhões até 2025, de acordo com um estudo do McKinsey Global Institute, citado em um relatório recente do BNDES.
As propriedades brasileiras, em contrapartida, já estão se preparando para esse cenário. A SLC Agrícola - que cultiva uma área maior que o estado norte-americano de Rhode Island com soja, milho e algodão – tem treinado técnicos para analisar os dados colhidos no campo. A companhia, que tem sede em São Paulo, também criou um comitê para garantir segurança de informação e avaliar centenas de aplicativos oferecidos por desenvolvedores de software.
As usinas de açúcar também estão se equipando. Com uma frota com mais de 2 mil veículos, a São Martinho está construindo uma rede de torres de transmissão para integrar as atividades de campo, que compreendem 300 mil hectares, a um centro de controle que poderia ajudar a antecipar os pedidos de abastecimento e problemas mecânicos.
A cobertura de internet limitada no campo levou outra gigante do setor sucroalcooleiro, a Raízen, a desenvolver uma solução caseira para conectar os canaviais ao departamento de controle de operações, que fica a 800 km de distância da plantação mais próxima, segundo o vice-presidente Fábio Mota. Algumas áreas sem sinal de internet são linkadas a partir de um sistema de comunicação entre as próprias máquinas.
“Se contássemos apenas com os serviços oferecidos pelas companhias de telecomunicações, teríamos algo em torno de 60% da área com alguma conexão”, avalia Mota. “Mas esse índice subiu para quase 100% porque criamos nossas próprias soluções.”
Três anos atrás, a companhia tinha cerca de 400 colheitadeiras, cada uma custando R$ 1 milhão, conta José Alberto Abreu, vice-presidente de açúcar e etanol da Raízen. “Hoje, precisamos de 290 para colher a mesma área, ao passo que a conectividade nos permite fazer melhor uso das máquinas.”
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