Minas Gerais e Rio Grande do Sul travam uma disputa saudável - literalmente, já que o produto em questão é visto como benéfico ao coração: a primeira extração registrada de azeite de oliva no Brasil.
No dia 29 de fevereiro de 2008, foram extraídos 40 litros de azeite no município de Maria da Fé, na Região da Serra da Mantinqueira, em Minas Gerais.
“Claro que houve extrações antes, principalmente artesanais. Mas essa foi registrada, feita com a partir de uma prensa que veio de São Paulo. Foi um momento impactante”, afirma coordenador do Programa Estadual de Olivicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG, Luiz Fernando de Oliveira. Ele explica que a ocasião permitiu ganho de escala e foi até mesmo acompanhada de perto pela TV Globo local.
Apesar do ‘celebre momento mineiro’, o pioneirismo do azeite brasileiro é disputado com os gaúchos. “A primeira extração com registro de marca comercial foi da [empresa gaúcha] Olivas do Sul. Até porque uma coisa é extrair, outra é ter uma marca comercial”, brinca Enilton Coutinho, da Embrapa Clima Temperado, do Rio Grande do Sul.
A empresa gaúcha afirma: começou a produção em 2006, na cidade de Cachoeira do Sul, com um pomar de 12 hectares com mudas importadas da Espanha. “Hoje no Sul temos uma área total de produção de 3,5 mil hectares. Os maiores produtores tem extensão de 500 hectares”, comenta Coutinho.
Demanda alta
Hoje, pouco mais de uma década depois da primeira extração registrada no Brasil, Oliveira explica por que o Brasil demorou tanto para começar a produzir um produto que, segundo registros, já era regulamentado na Mesopotâmia (atual Iraque) no Código de Hamurabi, no ano 1772 antes de Cristo. Ou seja, há quase 4 mil anos.
“Foi uma oportunidade de mercado tendo em visto o alto consumo. O Brasil é um dos maiores consumidores e importadores do mundo. E se temos condições climáticas, por que não produzir?”, questiona Oliveira.
No Sudeste, a Epamig estima que existam cerca de 200 produtores de oliveiras. “Já no Sul temos uma área total de produção de 3,5 mil hectares. Os maiores produtores tem extensão de 500 hectares”, completa Coutinho.
Juntos, os pomares devem colaborar para a produção de 150 mil litros de azeite nacional em 2018, prevê o Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva). O número é 43% maior que a produção de 105 mil litros no país em 2017. No Sudeste, a Epamig estima a produção de 80 mil litros neste ano. Já a Ibraoliva destaca que o Rio Grande do Sul deve colaborar com 50 mil ou 55 mil litros. O restante fica por conta dos outros estados do Sul, Paraná e Santa Catarina.
No total importado de azeite de oliva, foram 60 mil litros, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Qualidade incontestável
Em terras paranaenses, o português Idálio Cruz Inácio é um dos pioneiros. Dos 86 hectares cultivados com oliveiras hoje no Paraná, 53 ficam na propriedade de Inácio. A produção no estado ainda está engatinhando, mas o produtor garante: “O azeite que produzimos no Paraná pode ser considerado o melhor do mundo porque é puro e fresco, envasado em até 12 horas depois da colheita”, disse à Gazeta do Povo, em fevereiro.
Contudo, a produção mineira também não deixa a desejar. “O azeite produzido na Região da Serra da Mantiqueira apresenta mais frescor, tem cheiro e aroma frutado e características sensoriais de amargo e picância distintas das de outras regiões produtoras”, observa Luiz Fernando de Oliveira.
Qualidade, portanto, não falta aos azeites brasileiros. Contudo, a produção tem outro problema. Segundo Enilton Coutinho, a produtividade média é de 500 litros por hectare. “Alcançar 2 mil litros por hectare é um sonho. E isso se deve ao clima”, diz. Como diria o ditado, quantidade não é sinônimo de qualidade. E o Brasil parece que vai bem no segundo item - pelo menos quando se trata de azeite.
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