Fabio Schmidt já decidiu elevar em 30% a área de cevada em Ponta Grossa no ciclo 2014/15| Foto: Josua© Teixeira/ Gazeta Do Povo

A construção de duas novas maltarias no Paraná – uma do Grupo Petrópolis e outra da Cooperativa Agrária – abre uma nova onda de apostas na cevada nos campos do estado. Somente para este inverno, é esperado um aumento 12% na área plantada em relação ao ano passado, conforme a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab). Com isso, a cultura ocuparia a maior área dos últimos três anos, cerca de 52 mil hectares. O recorde está 4 mil hectares além desse número. Até o momento, 3% do total foram plantados.

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Apesar do incremento, o setor acredita que há demanda suficiente para que a área seja dobrada até o ciclo 2015/16, para 100 mil hectares. Maior parte do aumento é impulsionado por um grupo. A Ambev, principal cliente da cevada paranaense, vai aumentar de 35 mil para 50 mil hectares a área contratada de sua fornecedora, a cooperativa Agrária, de Guarapuava. A produção “extra” dos cooperados vai abastecer uma fábrica da companhia em Ponta Grossa que está sendo ampliada. A previsão de conclusão da obra é setembro deste ano. “Queremos crescer. Com a Agrária aumentando sua produção, automaticamente vamos suprir essa nossa demanda”, afirma o especialista agronômico da Ambev, Dércio Luís Oppelt. A multinacional, que é líder no ramo de bebidas, tem um plano de expansão que visa a autossuficiência e prevê aumento de 20% ao ano na colheita da matéria-prima.

O Grupo Petrópolis, do Rio de Janeiro, também já firmou compromisso para instalação de uma maltaria na região dos Campos Gerais do Paraná. A empresa promete investir mais de R$ 260 milhões na fábrica e demandar 160 mil toneladas de cevada a mais por ano.

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Otimismo

A chegada de novos investimentos no estado anima os produtores. Fábio Schmidt, engenheiro agrônomo e proprietário da fazenda Protecta, de Ponta Grossa, vai expandir em 30% o cultivo na próxima temporada, de 10 mil para 13 mil hectares. Otimista, ele acredita que “em um prazo de dois anos, tenhamos que chegar a 80 mil hectares no estado só para atender à expansão da Agrária. Mais outros 20 mil ou 30 mil hectares para suprir o Grupo Petrópolis”, prevê.

O presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Ro­­dol­­pho Luiz Werneck Botelho, também acredita no crescimento no plantio. “O aumento de produção da Agrária abre uma nova perspectiva de demanda. E isso cria um ânimo no produtor. A tendência é de expansão”, diz.

O Paraná deve retirar dos campos produção equivalente a 60% da colheita nacional de cevada. Se o clima colaborar, serão produzidas 213 mil toneladas do produto, 11% mais que no ano passado. O Brasil deve colher 361 mil toneladas, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

ALTERNATIVA: Plantio pode crescer sobre áreas de cobertura

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Apesar da limitação de áreas novas, o Paraná tem condições de ampliar o plantio de cevada, até mesmo nas re­giões onde a cultura já está consolidada, como nos Campos Gerais, avalia o setor produtivo. A região tem clima favorável ao desenvolvimento do cereal. “Muita gente só faz a cobertura do solo, não planta nem trigo nem cevada. A cultura é mais uma alternativa para região, tem uma rentabilidade boa e o pessoal tende a investir nisso”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa, Gustavo Ribas Netto.

Mesmo em Guarapuava, responsável 35 mil dos mais de 50 mil hectares plantados no estado, há espaço para crescer. “Se pensarmos nos não cooperados da Agrária, vários teriam condições de entrar na cultura. Há áreas disponíveis para a ampliação”, garante o chefe do Núcleo Regional de Guarapuava da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), Arthur Bittencourt Filho.

Para encorajar investimentos no campo, a Ambev modificou as formas de remuneração ao produtor rural. Segundo o especialista agronômico da empresa, Dércio Luís Oppelt, existem três opções de contratos. Há o modelo de preço fixo, com valores 10% maiores que os do ano passado; um que fixa preços semanais, com base em tetos mínimos e máximos no período; e outro, que segue a cotação do trigo na Bolsa de Chicago, principal referência do mercado internacional.

500 mil hectares é o terreno que o Brasil deveria plantar de cevada para atender a indústria cervejeira, conforme a Embrapa Trigo. Nesta safra, o país deve destinar 109 mil hectares, segundo a Conab.

370 mil toneladas de cevada foram importadas pelo Brasil no ano passado, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Com previsão de aumento da colheita do Paraná, maior produtor nacional, tendência é que as compras no exterior sejam reduzidas.

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