Moinhos com as portas fechadas aos produtores na hora da colheita, falta de garantia de renda aos produtores, pouco espaço nos armazéns, custo de transporte elevado do Sul para os mercados do Norte e do Nordeste. Os problemas crônicos do trigo se perpetuam e, mesmo num momento de preços 50% acima dos praticados um ano atrás, desanimam os produtores, mostrou o 8º Fórum Nacional do Trigo, realizado na última semana pela Embrapa Trigo, em Londrina, Norte do Paraná.
Tanto os produtores como os moinhos apresentam reclamações. Um quadro que aponta para a necessidade de soluções integradas, discutidas desde a década passada.
O preço sobe na entressafra mas não garante boa cotação na colheita nem liquidez. “Corremos o risco de não cobrir custo e não ter para quem vender”, disse Tarcísio Minetto, superintendente da Federação das Cooperativas do Rio Grande do Sul (Fecoagro). O produtor estaria insistindo no trigo onde não há opção lucrativa para o inverno ou pela importância do cereal na rotação de culturas.
A safra 2012, quando a produção foi limitada diante da concorrência com o milho de inverno, foi emblemática, disse o presidente da cooperativa paranaense Integrada, Carlos Murate. “Ficamos cinco meses sem mercado. Em setembro, início da colheita paranaense, não tinha ninguém comprando.”
Em sua avaliação, o caso reflete a falta de uma política nacional de estímulo à produção do cereal. A colheita brasileira vem cobrindo menos da metade do consumo interno de 10 milhões de toneladas.
Os moinhos avaliam que a qualidade do trigo brasileiro é boa e que há condições de ampliar a produção, mas ainda reclamam de falta de padrão. Esse problema vai se acentuar neste ano – com a quebra de 60% na safra do Paraná, provocada pelas geadas, e a perda de qualidade nas lavouras que sobraram –, apontou Nelson Montagna, responsável técnico do Moinho Anaconda.
A produção nacional reduzida a menos de 5 milhões de toneladas obriga a indústria a ampliar as importações de mercados distantes, uma vez que a oferta caiu no Mercosul como um todo. “Vamos receber trigo bom e ruim [da safra nacional], além de termos que importar dos Estados Unidos”, disse Montagna. A tonelada de trigo norte-americano custa cerca de 20% a mais para a indústria. O trigo nacional é misturado com o importado, para produção de mais de 60 tipos de farinha.
Os problemas têm origem em “questões de mercado”, apontou Eugenio Stefanelo, técnico de operações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As consequências acabam sendo arcadas pelos produtores e consumidores. Apesar da falta de liquidez na colheita, o que predomina é a escassez do produto, o que eleva os preços, considera.
Stefanelo disse que, além do Paraná, Rio Grande do Sul também vai enfrentar perdas por causa das geadas. E que, mesmo que a produção nacional seja rebaixada a 4 milhões de toneladas, há risco de falta de liquidez na colheita.
O fórum da Embrapa foi também a 7ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale. As discussões, segundo os organizadores, ajudam a pressionar o governo por uma política de apoio ao setor de médio e longo prazo, que reduz os custos, por exemplo, do transporte entre portos marítimos (cabotagem).