Uganda quer incentivar o cultivo de baunilha para tirar proveito dos preços desse aromatizante que vale mais do que a prata e que vem obrigando agricultores a contratar segurança armada para afugentar os ladrões. O país africano é o quarto maior exportador mundial do produto.
Neste ano, a nação encravada no continente africano vai produzir mais de 100 toneladas de baunilha, mas tem potencial para dobrar a produção, segundo a Aust & Hachmann Canada, empresa mais antiga do comércio mundial desta especiaria.
Ainda que o volume esteja bem abaixo das 1600 toneladas do produtor número 1, Madagascar, a produção adicional de Uganda aumentará a opção de fornecedores globais e fortalecerá uma das atividades agrícolas mais rentáveis, que pode pagar até US$ 600 mil por tonelada, segundo David van der Walde, diretor da empresa canadense.
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“A baunilha é um cultivo importante e o governo trabalha para promover a qualidade do produto e garantir a segurança nas áreas de produção”, disse Opolot Okasai, diretor do departamento de seguro rural do Ministério da Agricultura. A Câmara de Exportadores de Uganda avalia que na primeira metade desta década (até 2016) os embarques anuais de baunilha aumentaram de 650 quilos para 75,4 toneladas.
Essa receita agrícola extra ajuda na meta de Uganda, que já é o maior exportador africano de café, de se tornar até 2020 um país de classe média no continente, o que exigirá uma renda per capita entre US$ 1.045 e US$ 12.736. O atraso na extração de petróleo no Oeste do país, no entanto, prejudica os planos econômicos do governo. Produtos agrícolas, que incluem ainda coco e açúcar, respondem por cerca de um quarto do PIB de US$ 24,1 bilhões do País.
Os importadores veem com bons olhos o avanço em Ruanda desta orquídea que dá sabor a biscoitos, leites e sorvetes, porque assim não ficam dependentes de um único país fornecedor. No ano passado, um furacão varreu plantações em Madagascar, que responde por 80% da produção mundial, e provocou uma disparada nos preços. Papua Nova Guiné é o segundo maior produtor, com cerca de 200 a 250 toneladas por ano, seguida pela Indonésia, que produz cerca de 150 toneladas – segundo levantamento da trader canadense.
“Quando as condições são todas favoráveis, a qualidade da baunilha de Uganda é formidável”, diz Van der Walde, cuja empresa é historicamente um dos maiores clientes do país. Os preços dispararam no início dos anos 2000, o que fez a indústria recorrer a aromatizantes sintéticos. Como resultado, o mercado sofreu um colapso e os preços caíram para a faixa de US$ 30 a US$ 80 entre 2004 e 2014, fazendo com que muitos produtores reduzissem o cultivo.
Os preços voltaram a disparar em 2015 devido, principalmente, à nova demanda de grandes indústrias alimentícias, que buscam atender a preferência crescente dos consumidores por ingredientes naturais. Em Uganda, isso levou alguns produtores a colher as vagens de baunilha ainda muito verdes, prejudicando a qualidade e o volume da produção – segundo Van der Walde. O site da Câmara de Exportadores aponta que, apesar de a baunilha de Uganda ter elevada reputação de qualidade, a produção permanece relativamente baixa.
“Fico chateado por eles não terem aproveitado as recentes altas da baunilha”, diz Van der Walde. “É um prêmio de loteria e Uganda não soube tirar vantagem. Eles estão se mexendo agora, mas já é um pouco tarde”.
A baunilha ugandesa é cultivada principalmente na região central do País e no Oeste, nos distritos de Kasese e Bundibugyo, próximo da fronteira com a República Democrática do Congo. Segundo Okasai, do Ministério da Agricultura, para manter a baunilha como item valioso de “exportação e atração de divisas”, o governo irá confiscar e destruir o produto colhido ainda verde, orientando os produtores a fazer o manejo adequado. Uma unidade especial da polícia foi destacada para combater a adulteração do produto.
Segurança é a principal preocupação de Peter Lutalo, agricultor de Nkokonjeru, a cerca de 48 quilômetros ao leste da capital, Kampala. Ele conta que vizinhos contrataram guardas armados com revólveres, machadinhas e arco e flecha para proteger a baunilha.
“Se você não vigiar a propriedade durante a noite, os ladrões vêm e fazem a colheita no teu lugar”, disse o produtor de 34 anos.
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