Mão de obra corresponde a mais da metade dos custos em áreas não mecanizadas| Foto: Jonathan Campos/gazeta Do Povo

O café já foi a principal commodity produzida no Paraná, mas sofre contínua retração desde a safra 2002/03. A área ocupada pelo grão e a produção caíram mais de 30% nos últimos cinco anos. Nesta safra, a situação se agrava devido à queda nos preços e aos custos crescentes. A área nacional se mantém em 2 milhões de hectares enquanto a paranaense cai 2%, para 65,9 mil ha. Além de competir com regiões especializadas, a cafeicultura do Paraná se retrai diante da boa rentabilidade de cultivos como soja e milho.

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Após um pico de bons preços de venda em 2011 – quando a valor da saca de 60 quilos ficou acima de R$ 400 – veio a queda livre. Nos cinco primeiros meses deste ano, o valor médio foi de R$ 285 por saca, aponta a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab).

Eduardo Carvalhaes Jú­­­nior, analista de mercado do escritório Carvalhaes, explica que a referência para os negócios são as bolsas internacionais e que o tom, no momento, é baixista. “O mercado considera que o Brasil tem café de sobra. Junta-se a isso a crise internacional e está formado o quadro para derrubar os preços”, aponta. Ele salienta que essa perspectiva contraria avaliações internas, como a da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que mostram equilíbrio entre oferta e demanda.

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As cotações mais baixas criam um descompasso com os custos de produção, que neste ano são de R$ 362,24 por saca na região de Londrina (Norte), conforme a Conab. A maior parte desse valor corresponde aos gastos com trabalhadores, afirma Paulo Franzini, secretário-executivo da Câmara Setorial do Café e técnico da Seab. “Aproximadamente 60% do custo estão ligados à mão de obra, que está escassa e mais cara”, diz.

O produtor Elias Fernandes da Silva confirma a realidade desfavorável. Ele cultiva cerca de 41 hectares do produto em Corumbataí do Sul (Centro do estado) e gasta R$ 410 por saca. A salvação, explica, vem por intermédio da Cooperativa Agroindustrial de Corumbataí do Sul (Coaprocor), que articula preços mais competitivos. A produção dos associados é selecionada e o café é vendido por um valor mais alto. “Só o mercado normal não dá”, resume.

O setor parte para a mecanização. A Cocari, de Mandaguari (Norte), estimula essa opção. “A máquina reduz os custos, aumentando a rentabilidade. Se não houver mecanização a atividade vai acabar”, avalia Roberval Simões Rodrigues, responsável pelo setor na cooperativa. Como a mão de obra é escassa, não haveria grande impacto social com a chegada das máquinas, complementa Franzini.

No curto prazo, a demanda é pela intervenção governamental. Pedro Loyola, economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep) diz que o reajuste de 17,3% no preço mínimo do café, para R$ 307 por saca de 60 quilos, é insuficiente. “Se não houver uma política pública, no curto prazo, o produtor só vai ver prejuízo no café”, sustenta. Carvalhaes diz que a intervenção pode direcionar o mercado e interromper a sequência de queda nos preços.

Qualidade

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Em meio à crise, cooperativa busca cliente no exterior

Diante dos preços desfavoráveis, a Cooperativa Agroindustrial de Corumbataí do Sul (Coaprocor) pôs em prática um modelo que visa melhorar a remuneração dos cafeicultores. A prática do Fair Trade (troca justa, em português) começou há dois anos e levou o produto da pequena cidade de 4 mil habitantes ao exterior.

Além de produtor, Elias Fernandes da Silva também coordena as vendas da Coaprocor. Para agregar valor ao café, os grãos são selecionados e o produto é embarcado em contêineres. A última carga negociada, em março de 2012, teve como destino o Reino Unido.

Prejuízo

Silva relata que o valor da saca de 60 quilos ultrapassou R$ 400, enquanto o produto convencional não rende mais que R$ 280 por saca na região. Neste ano a previsão é ainda mais otimista. “Estamos nos preparando para vender pelo menos 3 mil sacas. Os produtores estão animados”, afirma.

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Enquanto o produto de alta qualidade ganha espaço no mercado externo, o consumo interno ainda está atrelado aos preços, destaca Roberval Simões Rodrigues, da Cocari. “O consumidor ainda compra o mais barato. O mercado acaba não pagando o que é investido”, aponta.

Considerando que o custo pode ser R$ 100 maior que a renda por saca, o setor informa estar prestes a arcar com um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão, considerando neste cálculo as lavouras do Paraná, São Paulo e Minas Gerais.

R$ 307 é o preço mínimo definido pelo governo para a saca de 60 quilos do café tipo arábica. O montante sofreu reajuste de 17,3% em maio, ante R$ 261,69/sc, e vigora até março de 2014.