Desde que começou no Brasil, há 15 anos, a indústria de pellets voltada para produção de energia térmica e elétrica vive o que parece ser o seu melhor momento. Esses pequenos cilindros de biomassa vegetal, altamente compactados para concentrar o máximo de poder calorífico, estão ganhando terreno na substituição da lenha e do carvão como fonte de energia renovável, principalmente no mercado europeu.
Segundo a engenheira florestal madeireira Vivian Takahashi, consultora da empresa Vale do Tibagi, com sede em Telêmaco Borba (PR), o consumo de pellets na Europa é maior porque o continente assinou acordos para a redução da emissão de CO2 e precisa ter, até 2020, ao menos 20% de suas fontes de energia a partir de recursos renováveis.
Essa demanda impulsionou a indústria do setor no Brasil. Em apenas um ano, de 2016 para 2017, o país aumentou em seis vezes a produção de pellets, passando de 135 mil toneladas para 470 mil toneladas, conforme dados levantados pelo engenheiro industrial e pesquisador Dorival Pinheiro Garcia. O principal alvo são as exportações, onde é usado para aquecimento residencial e produção de energia térmica e elétrica.
Os pellets podem ser produzidos a partir de insumos vegetais, como refugos de madeira, capim elefante, sementes, bagaço de cana e casca de arroz, entre outros. No caso brasileiro, a matéria-prima provém majoritariamente da acácia negra (46%) e do pinus (53%). Apenas 1% é proveniente do bagaço de cana e, apesar de ainda não constar nas estatísticas, já existem iniciativas para a produção de pellets a partir de eucalipto. Atualmente, há cerca de 20 empresas produzindo pellets no Brasil. As indústrias se concentram no Sul e Sudeste do país, sendo que quatro estão no Paraná.
Mercado europeu
Se por outro lado a demanda europeia é alta, por outro o continente não produz pellets suficientes para abastecer o próprio consumo, importando a maior parte dos Estados Unidos e do Canadá, que são os maiores produtores mundiais. Somente nos EUA há atualmente 216 plantas industriais para fabricação de pellets.
Para entrar nesse mercado tão competitivo, especialmente o europeu, as empresas brasileiras precisam antes obter o certificado ENplus. “A maioria das empresas que exporta busca essa certificação para aumentar o valor agregado do seu produto e certificar a qualidade da sua produção. O selo é requisitado principalmente para mercados de pellets voltados para o aquecimento residencial”, explica Vivian, que participou nesta semana do 3º Congresso Internacional de Biomassa (CIBIO), que reuniu, em Curitiba, as principais entidades ligadas ao setor.
Por sua baixa emissão de CO2, se comparado a combustíveis fósseis tradicionais como gás e petróleo, e alto poder calorífico, o pellet virou uma opção bastante viável não só para calefação doméstica, mas também para fins comerciais (fornos de pizzarias, caldeiras de restaurantes e hotéis) e industriais – quando há necessidade de produzir energia termoelétrica para girar o parque fabril e outras fontes energéticas são muito caras (como a energia da rede pública) ou insuficientes e intermitentes (caso da energia fotovoltaica).
Tipo exportação
Segundo Dorival Garcia, o mercado de pellets no Brasil tem ainda muito potencial para se desenvolver, apesar dos desafios. “Nos últimos anos o mercado cresceu bastante, principalmente por causa da entrada da Tanac, no Rio Grande do Sul, que é uma empresa grande e voltada à exportação, e também porque outras empresas encontraram o caminho para fazer a exportação de seus pellets”, afirma.
De acordo com o pesquisador, a matéria prima para fabricação de pellets no Brasil é boa e diversificada. “Isso é um bom sinal, quer dizer que estamos aproveitando bem os resíduos e subprodutos que temos aqui”, pontua. No entanto, ainda há demandas a serem exploradas em alguns nichos no mercado interno, como o uso de pellets para o aquecimento de aviários, que vem gerando um número crescente de pedidos, sobretudo no Paraná, e para o mercado de pets, com o uso do pellet granulado para forração higiênica de ambientes para gatos.
Além das vantagens ecológicas, o pellet tem como diferenciais o fácil transporte, manuseio e estocagem. Também é capaz de produzir uma queima constante – ideal para indústrias e aquecer aviários, por exemplo.
No entanto, segundo Garcia, os custos logísticos e estruturais ainda precisam ser melhorados, como os portos, que no Brasil não estão preparados para receber pellets. Fora isso, o produto nacional precisa enfrentar uma concorrência agressiva, inclusive com combustível mais poluentes, com o gás que vem da Bolívia, que é mais barato.
A falta de uma associação nacional dos produtores também é um empecilho para uma melhor organização do setor, segundo o especialista, além da ausência de subsídios do governo para incrementar a produção. Por fim, a falta de normas nacionais para dar um padrão mínimo de qualidade é apontada como um problema. “Também não tememos laboratórios no Brasil que façam todas as análises, de uma vez só, que são exigidas para a exportação. Muitas vezes os produtores precisam mandar fazer fora do país”, diz Garcia.
Veja onde ficam os produtores de pellets no Brasil:
Fonte: Dorival Pinheiro Garcia
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