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o fino da batata

Tecnologia no campo faz batata chips brasileira dobrar índice de produtividade

Na planta fabril da Pepsico em Curitiba, a batata trazida direto do campo passa por processos de lavagem, descascamento, corte e fritura (foto). Durante as etapas, passa por diversos controles de qualidade. | Rogério Machado/Divulgação
Na planta fabril da Pepsico em Curitiba, a batata trazida direto do campo passa por processos de lavagem, descascamento, corte e fritura (foto). Durante as etapas, passa por diversos controles de qualidade. (Foto: Rogério Machado/Divulgação)

Alexandre Dzierwa tinha só 5 anos quando o pai, Emílio, vendeu o primeiro lote de batatas para uma grande multinacional do ramo de salgadinhos. O ano era 1992 e a família, descendente de poloneses, descobria uma oportunidade para mudar os rumos dos negócios. Hoje, o cultivo de batata na base do arado puxado a cavalo de antigamente deu lugar a maquinários importados, agricultura de precisão e uma logística milimétrica para garantir padrão internacional de qualidade à produção.

“No tempo do meu avô Isidoro, que começou a cultivar batata há 50 anos, o pessoal carregava sacos de 60 kg nas costas. Isso não existe mais”, diz Dzierwa. Atualmente, os equipamentos da fazenda localizada na Lapa, município da Região Metropolitana de Curitiba, dão conta de carregar sacos de 600 kg até o caminhão, que leva o produto até a beneficiadora da família em Contenda, também na RMC, onde a batata é lavada, separada e preparada para o transporte até a fábrica da Pepsico, que destina a produção da batata chips Lay´s.

Com o incremento tecnológico e de manejo no campo, a produtividade média da lavoura dos Dzierwa saltou de 18 mil toneladas por hectare em 1995 para 30 mil t/ha nos dias de hoje. Entre as técnicas usadas para o cultivo estão sistemas de irrigação por canhão, pois o pivô central não consegue ser eficiente por causa do relevo acidentado. O plantio escalonado, com variedades de 90 a 120 dias de ciclo, também é utilizado para driblar os problemas climáticos. O uso excessivo de agroquímicos, segundo Dzierwa, é evitado com aplicações mais eficientes e uso de plantas mais resistentes a doenças. Além disso, o plantio é feito de forma regulada, usando mapas de satélite, GPS e análises de solo para identificar os talhões mais produtivos.

Dos 40 produtores que cultivam batata para a Pepsico no país, metade está no Paraná, único estado que possui condições climáticas para o plantio do tubérculo no verão. Nas demais épocas do ano, o cultivo é feito em Minas Gerais e interior de São Paulo, onde ficam as outras fábricas da multinacional, mais especificamente em Sete Lagoas e Itu, respectivamente.

“Metade do nosso volume anual sai daqui do Paraná. A gente produz batata 365 dias por ano. Toda semana tem produtor plantando e colhendo para abastecer as fábricas, que operam em três turnos, seis dias por semana”, explica Marcelo Zanetti, diretor de Agronegócio da Pepsico. A planta fabril da capital paranaense tem a maior capacidade para produção da linha de batatas no país. Da lavoura ao empacotamento o processo dura menos de 24 horas, garante a companhia. A menos quando a carga precisa abastecer fábricas em outros estados.

A empresa possui um programa padrão de compra direta do produtor em cerca de 40 países, o que melhora o controle de qualidade sobre todo o processo, desde o desenvolvimento das sementes, que é feito em centros de controle nos EUA e no Peru, até o produto final embalado. Isso também possibilita o completo rastreamento de cada lote de batatas a partir da lavoura. A empresa não divulga números de produção.

No caso das variedades de sementes destinadas ao Brasil, alguns produtores locais fazem a multiplicação do insumo. “A semente que estamos programando plantar aqui com o Alexandre vamos colhê-la em 2021. Por isso a parceria tem que ser de longo prazo”, afirma Zanetti. A variedade cultivada pela família Dzierwa é chamada de fritolay, um tipo específico desenvolvido para uso industrial, com mais teor de sólidos e menos de água, o que a faz ideal para fritura e com baixa absorção de óleo.

“No Brasil a gente usa a própria batata como semente, tanto por questões de viabilidade quando de tempo. A batata “mãe” vai ser exatamente igual à batata “filha”, justamente para manter o mesmo padrão de qualidade. Os cruzamentos de variedade só são feitos lá nos EUA”, diz Vinicius Silva, engenheiro agrônomo da Pepsico responsável pelo Paraná e São Paulo. Segundo a empresa, não há transgenia envolvida nos processos de produção de sementes, apenas cruzamentos naturais controlados.

Dzierwa explica a época ideal de plantio, incluindo áreas nos municípios da Lapa, Porto Amazonas e Palmeira, no Paraná, é entre agosto e fevereiro, mais tardar início de março. “Nesse intervalo até julho nós não plantamos, isso porque são meses frios com dias curtos e a planta não se desenvolve. Daí vamos colher de dezembro a junho”, afirma. O ciclo da batata gira em torno de 100 dias e as áreas onde o tubérculo já foi plantado só são retomadas para o cultivo da batata após 3 anos.

Esse vazio no plantio e a rotatividade de cultura (com aveia, feijão e soja) é importante para evitar doenças fúngicas, como a requeima, que diminui a produtividade, aumenta custos e reduz o lucro do produtor, além de degradar o solo. “A batata é uma das culturas que mais exige fertilizantes, então os produtores que cultivam ela e depois podem plantar feijão, por exemplo, sem precisar adubar o solo, ou plantar soja com menos adubo”, explica Dzierwa.

Neste ano, a estiagem que afetou a soja e o milho brasileiros também teve impactos na produção de batatas. “Em outubro choveu muito aqui, já em novembro houve estiagem e em dezembro e janeiro ocorreram temperaturas muito altas, em que chegamos a registrar 37°C no campo, quando normalmente chega no máximo a 32°C”, explica o produtor. A batata é bastante sensível ao calor, o que provoca deformações no tubérculo. Apesar de não causar problemas para o consumo humano, essa batata acaba sendo descartada por não estar dentro dos padrões de conformidade para o fatiamento e processamento na planta industrial. Tudo o que é descartado, desde a lavoura até a fábrica, vai para consumo animal.

Os contratos firmados com os produtores não são necessariamente de exclusividade, apenas se for opção do produtor e no caso do plantio das batatas fornecidas pela Pepsico. O preço negociado é fixo, baseado no custo de produção e não no preço de mercado. A empresa também não revela o quanto paga aos produtores, alegando questões de sigilo contratual. Ao todo, a Pepsico processa anualmente a carga de 4 mil carretas oriundas de suas beneficiadoras de batata parceiras. Cada caminhão carrega, em média, 30 toneladas de batata, o que dá aproximadamente 120 mil toneladas anuais.

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