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Reposição florestal na Islândia | JOSH HANER/NYT
Reposição florestal na Islândia| Foto: JOSH HANER/NYT

Gunnarsholt, Islândia – Com seus campos de mudas, Jon Asgeir Jonsson é um soldado na luta para reflorestar a Islândia, trabalhando para trazer vida nova às paisagens basicamente áridas.

O país perdeu a maior parte de suas árvores há mais de mil anos, quando os colonos vikings trouxeram seus machados para as florestas que cobriam um quarto do interior da ilha; agora, os islandeses gostariam de ter essas florestas de volta para melhorar e estabilizar o duro solo do país, ajudar a agricultura e combater a mudança climática.

Mas restaurar mesmo uma porção das outrora vastas florestas islandesas é uma tarefa lenta e aparentemente interminável. Apesar do plantio de três milhões de árvores, ou mais, nos últimos anos, a quantidade de terra coberta por essa vegetação – estimada em cerca de 1 por cento na virada do século 20, quando o reflorestamento se transformou em prioridade – quase não aumentou.

“É sem dúvida uma luta. Ganhamos talvez meio por cento de área no último século”, disse Jonsson, engenheiro florestal que trabalha para a Associação Florestal Islandesa, uma entidade privada que planta mudas com voluntários de muitos grupos florestais locais nesta ilha-nação de 350 mil habitantes.

Mesmo em um país pequeno como a Islândia, alguns milhões de árvores por ano é apenas uma gota no oceano.

As paisagens austeras e basicamente áridas da Islândia, pontuadas por vastas geleiras e vulcões imponentes, há muito tempo são usadas pela indústria cinematográfica.

O ambiente exótico também ajudou no crescimento do turismo: quase 1,8 milhão de estrangeiros visitaram o país no ano passado.

Mas, com essa beleza, vem um problema que os islandeses enfrentam há séculos: a falta de árvores, além da cinza e dos rochedos vulcânicos criados por erupções, levou a uma erosão severa do solo.

Com vegetação incapaz de se estabelecer com segurança, a agricultura e o pastoreio foram quase que totalmente impossibilitados em muitas partes do país. E o solo instável, combinado com os ventos fortes da ilha, deu origem a tempestades de areia que podem danificar ainda mais a terra – e até mesmo destruir a pintura dos carros.

Os agricultores islandeses lutam contra a erosão do solo e os ventos há séculos, mas uma tempestade de areia particularmente destrutiva a leste da capital, Reykjavík, em 1882, fez o governo estabelecer trabalhos de reflorestamento e de conservação do solo.

Reflorestar mais áreas da paisagem islandesa teria benefícios, além de ajudar os agricultores e evitar as tempestades de areia. Como a mudança do clima se tornou uma grande preocupação, líderes da Islândia veem essa opção como uma maneira de ajudar o país a cumprir suas metas climáticas.

Apesar do uso generalizado da energia geotérmica e hidrelétrica, o país tem altas taxas per capita de emissões de gases de efeito estufa, em grande parte por causa do transporte e das indústrias pesadas, como a fundição de alumínio. O governo está trabalhando com a União Europeia e a Noruega para cumprir uma meta global de redução de emissões de 40 por cento, voltando aos níveis de 1990 até 2030. Separadamente, a Islândia tem seu próprio objetivo de uma redução, entre 50 por cento e 75 por cento até 2050.

As árvores, ao absorverem o dióxido de carbono atmosférico em seus troncos, raízes e outros tecidos, podem compensar algumas das emissões do país.

“Uma contribuição importante para as políticas islandesas de mitigação das emissões é o plantio de árvores. É uma causa grande aqui”, disse Gudmundur Halldorsson, coordenador de pesquisas do Serviço de Conservação de Solo da Islândia.

Mas, como mostra o trabalho de Jonsson, quando as árvores somem, trazê-las de volta não é uma tarefa fácil.

Quando a ilha foi colonizada pela primeira vez, no final do século IX, grande parte da área costeira estava coberta de bosques de faias.

“As pessoas vieram para cá na Idade do Ferro e fizeram o que a cultura da Idade do Ferro fazia”, disse Halldorsson.

Os colonos cortavam e queimavam florestas para cultivar feno e cevada e criar pastagens, usando a madeira para a construção e para o carvão vegetal de suas forjas. Segundo a maioria dos relatos, a ilha foi amplamente desmatada em três séculos.

“Eles removeram o pilar do ecossistema”, disse Halldorsson.

Erupções ao longo dos séculos que se seguiram, de alguns dos muitos vulcões da Islândia, depositaram espessas camadas de material vulcânico. A cinza, mesmo que rica em nutrientes, fragilizou o solo, que não conseguia segurar a água e erodia com os ventos fortes.

Como resultado, a Islândia é um estudo de caso de desertificação, com pouca ou nenhuma vegetação, embora o problema não seja nem o calor, nem a seca. “Cerca de 40 por cento do país é deserto, mas há muita chuva; é o que chamamos de -deserto molhado-”, disse Halldorsson. A situação é tão ruim que estudantes de países em fase de desertificação vêm aqui para estudar o processo.

Esse processo geralmente começa com gramíneas, que crescem rapidamente e podem estabilizar o solo. Os tremoceiros, com suas flores roxas, muitas vezes vêm em seguida. As árvores chegam mais tarde.

O trabalho de plantio de mudas geralmente começa com a avaliação de uma área específica. Para Jonsson, da associação florestal, isso significa analisar a vegetação que cresce lá. “Você pode estimar a riqueza do solo que está por baixo”, disse ele.

Jonsson e seus voluntários plantam então a espécie adequada para o local – faia, abeto, pinheiro, lariço russo ou outras espécies. “Adoraríamos plantar aspens, mas as ovelhas gostam de comê-las.”

Para Saemundur Thorvaldsson, silvicultor de governo que trabalha com grupos de voluntários e fazendeiros na região de Westfjords, no norte da Islândia, a árvore “certa” cerca de 30 por cento do tempo é a faia, da mesma espécie dominante na época da colonização da Islândia. Ela pode tolerar solos pobres, e embora cresça muito lentamente, acaba fornecendo abrigo para outras espécies.

A maioria delas – abetos, pinheiros, choupo negro – são originárias do Alasca. Suas mudas estão sendo cultivadas agora em estufas na Islândia, pois a importação de plantas vivas é proibida.

Elas crescem mais rapidamente que a faia e, por isso, como armazenadoras de carbono, são mais eficazes. Mas tudo na Islândia cresce lentamente, de acordo com Thorvaldsson. Em uma floresta ao lado de Isafjordur, plantada na década de 1940, os abetos tenham talvez 15 metros de altura. “No sudeste do Alasca eles podem chegar facilmente a três vezes essa altura”, disse ele.

“Ninguém espera que um quarto da Islândia acabe sendo coberto por florestas novamente, mas tendo em vista as taxas de crescimento lentas e a enormidade da tarefa, mesmo os ganhos mais modestos levarão um longo tempo”, disse Thorvaldsson.

“O objetivo agora é que, nos próximos 50 anos, possamos chegar a cinco por cento, só que na velocidade que estamos agora, isso levaria 150 anos.”

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