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Pegada de carbono

Para colher um melão, europeus poluem mais que o dobro que o produtor brasileiro

 | Pixabay/Creative Commons
(Foto: Pixabay/Creative Commons)

O melão amarelo que sai da região Jaguaribe-Açu, no Ceará, principal polo produtor brasileiro da fruta, deixa na atmosfera a metade da quantidade de gases de efeito estufa (GEEs) que a liberada pelo melão do tipo italiano cultivado na região da Sicília, Itália.

Outros importantes produtores mundiais apresentam quantidades similares ou até maiores que as registradas no Sul da Itália.

Os dados foram calculados durante um amplo estudo de eficiência ambiental da cultura, realizado dentro de fazendas produtoras do polo Jaguaribe-Açu, pela rede Repensa Melão - um consórcio que reuniu instituições de pesquisa e representantes do setor produtivo. Os dados estão disponíveis na internet em publicação no formato digital.

“A pesquisa atende a uma necessidade dos produtores. Eles desejavam mensurar a eficiência ambiental para garantir espaço em mercados mais exigentes, que buscam produtos com certificados ambientais”, explica a pesquisadora Maria Clea Brito de Figueiredo, da Embrapa Agroindústria Tropical (CE).

Consumo de água também foi avaliado

Além de calcular a pegada de carbono, o estudo incluiu a pegada de escassez hídrica. Foram avaliados 24 diferentes sistemas de produção e se chegou a uma proposta de modelos mais eficientes dos pontos de vista ambiental e econômico. Os pesquisadores buscaram sistemas que pudessem ampliar o estoque de carbono no solo, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, consequentemente, reduzir a pegada de carbono no melão brasileiro.

“É um estudo para o setor tomar como referência. Com base nos dados, cada exportador pode calcular sua própria eficiência e atuar para melhorá-la”, salienta Clea Figueiredo. Os pesquisadores acreditam que o impacto pode ser formidável, sobretudo quando for restabelecida a normalidade das chuvas na região, que enfrenta sucessivos anos de estiagem. O polo Jaguaribe-Açu é responsável por cerca de três quartos da área colhida, mais de 80% da produção e a quase totalidade das exportações brasileiras.

Modelo mais verde é o mais lucrativo

Os pesquisadores não só avaliaram a eficiência ambiental do modelo tradicional de produção, mas também buscaram alternativas para reduzir a pegada de carbono e aumentar receitas. Para isso, foram comparados ao sistema tradicional vários modelos alternativos de cultivo. A surpresa do estudo é que o sistema ambientalmente mais eficiente em sequestro de carbono mostrou-se também o mais lucrativo economicamente.

Esse campeão ambiental e econômico foi o sistema de rotação com milho e braquiária, com a incorporação da matéria orgânica no solo, e cultivo do meloeiro com utilização de filme de polietileno (mulching). O modelo de produção, testado na região de Jaguaribe-Açu, apresenta variação positiva no estoque de carbono, considerando o perfil de solo estudado (0-40 cm) e o período monitorado.

A avaliação econômica mostrou que esse sistema de cultivo oferece um aumento de mais de 100% na rentabilidade se comparado ao sistema tradicional, em um cenário considerado favorável (chuvas regulares garantindo água para irrigação e quebra do ciclo das principais pragas). Nesse cenário, o sistema de rotação de milho e braquiária apresenta rentabilidade de 117,90 % e o tradicional, de 59,69%.

Implantação barata

A segunda boa notícia para os produtores é que a implantação dessa alternativa de produção não exige um grande desembolso de recursos. O investimento adicional é de 6%. O estudo usou como indicador de rentabilidade o retorno sobre o investimento (ROI) e levou em consideração cenários favorável e adverso. Avaliou, ainda, o risco dos sistemas mais rentáveis.

O pesquisador da Embrapa Pedro Felizardo Adeodato de Paula Pessoa, um dos responsáveis pela avaliação de viabilidade econômica dos sistemas, explica que uma rentabilidade superior a 20% já é considerada atrativa. “Para compensar os riscos envolvidos, deve ser superior em duas ou três vezes as rentabilidades oferecidas pelas alternativas de investimento mais conservadoras e de baixo risco”, esclarece.

Parceria

Participaram desse estudo, além da Embrapa, Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) e Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). A pesquisa sobre pegada de escassez hídrica e de carbono também está sendo realizada com produtores da região do Submédio São Francisco em parceria com a Embrapa Semiárido, para as culturas de melão e manga.

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