O consumidor de Curitiba afirma que o produtor de alimentos do Paraná não tem seu valor reconhecido, mas não sabe quais mercadorias comprar para ajudar a reverter essa situação, mostra sondagem da Paraná Pesquisas realizada com exclusividade para a Gazeta do Povo. Foram entrevistadas 450 pessoas e a margem de erro é de 5%.
O índice dos que notam falta de reconhecimento ao produtor foi o maior entre todos os aferidos na sondagem (74%). O segundo maior, no entanto, refere-se aos consumidores que desconhecem as indústrias e cooperativas do estado (69%). Na qualidade de representantes dos produtores, essas empresas seriam desconhecidas.
"A população demonstrou uma relação de proximidade com o produtor rural e que tem orgulho daquilo que é do estado. Mas essa ligação pode não estar se refletindo em sua intensidade no consumo de alimentos paranaenses", afirma a diretora da Paraná Pesquisas, Juliane Ferreira da Silva. Ela foi porta-voz da equipe técnica que avaliou os números.
A pergunta que testou a memória dos consumidores sobre os nomes das indústrias e cooperativas exigia resposta espontânea. Ou seja, não foram apresentadas alternativas após a questão: "Você conhece alguma cooperativa ou indústria de alimento do Paraná?" Segundo Juliane, em situações assim, é natural que a memória "falhe". Mesmo nesse caso, o porcentual (69%) foi considerado expressivo pelos analistas da Paraná Pesquisas.
Ainda assim, 9,6% dos entrevistados citaram a cooperativa Coamo e 6,9%, a Cocamar. Outras oito cooperativas tiveram seus nomes citados e nenhuma indústria alcançou participação expressiva.
No supermercado, o consumidor não precisa fazer esforço para lembrar do nome das empresas. Pode reconhecê-las quando vê a marca ou lê as letras menores impressas nas embalagens. No entanto, apenas 39% afirmaram dar preferência, nessa hora, para produtos regionais. Isso indica que a maioria não usa esse critério na hora da compra, seja por falta de informação ou por considerar outros quesitos, como qualidade e preço.
Por outro lado, 30% disseram estar dispostos a pagar mais por produtos paranaenses. Mas não muito. De cada três consumidores, dois contaram que pagariam até 10% mais. Esse grupo representa 21% do total de entrevistados. Um grupo de 9% mostrou-se realmente disposto a ajudar o setor, pagando 11% extras ou até mais para levar para casa produtos com origem no estado.
"A população tem orgulho de ser paranaense e, se houvesse por parte das empresas do estado uma divulgação maior da região de origem do produto, o consumo de alimentos regionais poderia ser maior", acrescenta Juliane. A maioria dos consumidores entrevistados (63%) disse não conhecer pessoalmente um produtor de alimentos.
Minoria confere embalagem para saber origem
Na mesma hora em que confere o prazo de validade nas embalagens dos alimentos, Vera Galvão, 44 anos, aproveita e verifica se o produto é fabricado no Paraná. "Sendo bom, é claro que eu vou comprar", afirma. Ela se diz disposta inclusive a pagar mais caro, "quando a diferença de preço não é muito alta", para colaborar com os produtores e as indústrias do estado.
Por esses cuidados, Vera é minoria em Curitiba. Na sondagem que a Paraná Pesquisas realizou a pedido da Gazeta do Povo, dos 450 entrevistados, 54% disseram que não procuram saber a origem dos alimentos. Ou seja, para a maioria, dados como preço e marca bastam.
Com as fusões e aquisições entre empresas de alimentos registradas na última década no estado, quem não confere as letras miúdas das embalagens pode se enganar sobre a origem do leite, do frango, da carne bovina e do iogurte, entre outros artigos.
Apesar de a origem, por si só, não garantir qualidade, o consumidor curitibano demonstra mais confiança nos produtos do estado. Entre os que preferem os alimentos paranaenses, 34% disseram que fazem essa opção em busca de bons produtos. Essa foi a alternativa que teve maior adesão. Trata-se também de uma tentativa de ajudar os produtores rurais (23%), gerar empregos (19%) e estimular a economia do Paraná (15%).
Afeto
O lado emotivo também pesa. Ex-moradora de Irati (Centro-Sul do Paraná), Vera Galvão afirma que não tem mais parentes próximos atuando no cultivo de alimentos, mas preserva boas lembranças do campo. "Sempre revejo meus amigos de Irati e conheço um pouco da produção." Ela diz que pensa nesses amigos quando opta por um alimento regional, mantendo desapego a marcas ou nomes de indústrias. Promotora de vendas, não lembrou nomes de marcas de indústrias de alimentos situadas no estado durante entrevista à Gazeta do Povo.
Porém, como mantém forte laço com o estado, Vera escolhe inclusive os supermercados que divulgam serem paranaenses. Para ajudar diretamente os produtores, poderia frequentar feiras livres. Prefere locais fechados, em busca de segurança, e se resolve por lá. "Gosto de ver as banquinhas com produtos do Paraná no supermercado, sempre compro."