O governo pretende ser mais agressivo no esforço de ampliar exportações brasileiras para grandes mercados: Estados Unidos, União Europeia, China, Japão e Índia. E uma via importante para alcançar esse objetivo será convencer as empresas brasileiras a colocar um pé nesses mercados, seja por meio da instalação de subsidiária, de associações com empresas locais ou mesmo de franquias. Hoje, dois terços das exportações no mundo inteiro ocorrem dentro da mesma companhia.
Essa é uma das novas diretrizes de trabalho da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), que no governo do presidente em exercício, Michel Temer, foi incorporada à estrutura do Ministério das Relações Exteriores. Ela será comandada pelo embaixador Roberto Jaguaribe, que até então chefiava a missão diplomática brasileira em Pequim, na China.
“Existem iniciativas para grandes mercados, mas falta a definição de ações mais abrangentes para o desenvolvimento de parcerias”, diz Rodrigo Azeredo, diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimento do Itamaraty - que será a principal interface do ministério com a Apex.
Algumas empresas brasileiras já se internacionalizaram há muitos anos, mas o governo avalia que ainda são poucas. “Investir e produzir localmente é uma estratégia mais duradoura de relação comercial”, diz Azeredo.
O governo quer identificar, para cada mercado, quais produtos deve oferecer, e de que forma. Para entrar de maneira eficiente no mercado chinês, por exemplo, é preciso fazer parceria com alguma empresa local. E usar como porta de entrada Hong Kong, que é uma área mais ocidentalizada. Lá, a presença brasileira pode se dar até mesmo com a venda de franquias, sugere o diplomata.
Mas a mira da internacionalização não está voltada só para os mercados grandes. Ela tem um papel até mais estratégico nos mercados em desenvolvimento, como a África. Lá, empresas brasileiras têm instalado fábricas em países como Angola e Moçambique e oferecido, com apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial capacitação de mão de obra.
“Se ajudamos a criar a indústria, temos uma fatia do mercado”, comenta Azeredo. E, mais importante ainda, o País ajuda a criar as normas de fabricação desses bens. “Cada vez mais no mercado internacional, o que valem são as regras, as barreiras não tarifárias”, acrescenta.
Promoções
Outra orientação já dada pelo ministro das Relações Exteriores, José Serra, é fazer com que as iniciativas de promoção comercial caminhem com as negociações de acordos internacionais. De nada adianta abrir mercados e obter vantagens tarifárias se esse espaço não for explorado.
Como linha geral, o ministro quer que haja maior articulação entre Apex, Itamaraty e outras áreas de governo que atuam na promoção comercial, como o Ministério da Defesa, que apoia a exportação de aeronaves e armas, e o Ministério da Agricultura, que atua na venda de produtos agrícolas.
Faltava coordenação, e o resultado eram órgãos diferentes do governo fazendo trabalho duplicado. Havia também desperdício de dinheiro quando, por exemplo, a Apex contratava empresas para fazer, no exterior, um trabalho que poderia ser feito pelas embaixadas.
“As duas estruturas são complementares”, comenta Azeredo. Enquanto o Itamaraty tem uma grande rede no exterior (são 104 setores de promoção comercial em 81 países), a Apex dialoga bem com o setor produtivo brasileiro.
Caça às bruxas
Há, porém, áreas de sobreposição que devem ser eliminadas ou reduzidas. Estão em análise, por exemplo, os nove escritórios da Apex no exterior. As ações da agência também são alvo de uma análise de custo e benefício para que se possa decidir quais serão mantidas.
Os gastos administrativos deverão ser enxugados. Segundo fontes, o Itamaraty pediu um levantamento sobre cargos de confiança na Apex, o que gerou rumores de demissões em massa. Porém, Serra não quer criar um clima de “caça às bruxas”. De acordo com a área técnica, são poucos os cargos ocupados por indicação política.
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