A intenção do Paraná de suspender a vacinação do gado contra a febre aftosa a partir do segundo semestre deste ano coloca a pecuária nacional em risco, segundo a indústria veterinária. O setor se concentra em São Paulo, estado que também enfrentou barreiras sanitárias quando a doença entrou no país pelo Mato Grosso do Sul, em 2005. "Pode ser um desastre. A estratégia mais correta e segura seria começar vacinando apenas uma vez por ano", disse o diretor da Central de Selagem de Vacinas, de Vinhedo (SP), Silvio Cardoso Pinto, representante do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal.
Além disso, ele avaliou que seis meses é pouco tempo para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) realizar uma auditoria precisa e garantir que o vírus da aftosa não circula no território paranaense. Sua previsão é que o trabalho leve "dois anos, se o ministério tiver condições técnicas, de pessoal e verba". Para ele, o momento é de alerta. "Temos de tomar muito cuidado com isso. É preciso um trabalho de base bem feito."
A Central de Selagem é responsável pelo selo holográfico que atesta que a vacina não é falsificada e passou por todos os testes de qualidade na indústria. Todas as doses aplicadas no Brasil precisam passar pela unidade.
Os pecuaristas paulistas também mostram preocupação com a suspensão da vacinação no Paraná. Para o diretor de produção da Agropecuária Santa Bárbara, Lucio Cornachini, o país inteiro pode sofrer com a falta de imunização. "Uma vez que é detectado o foco de aftosa, a arroba do boi é desvalorizada e os países importadores deixam de consumir a carne brasileira." A empresa possui 450 mil cabeças de gado nos estados do São Paulo, Pará, Minas Gerais e Mato Grosso e planeja ampliar o rebanho.
Cornachini também defendeu a suspensão da vacinação por etapas. "Qualquer detalhe errado pode afetar toda uma cadeia", argumenta. "Não acredito que país vai ficar livre da vacinação tão cedo. Por precaução, vamos continuar vacinando 100% de nosso rebanho", argumentou.
Menos vacinas
As indústrias veterinárias estão preparadas para produzir 360 milhões de doses de vacina contra a aftosa este ano. A meta é estabelecida conforme o plantel a ser vacinado. O rebanho brasileiro a ser imunizado foi estimado, com base em dados do Mapa, em 170 milhões de cabeças, incluindo as 9 milhões do Paraná. Se o estado conseguir aprovação do Mapa para suspender a vacinação no segundo semestre deste ano, o mercado deve absorver 10 milhões de doses a menos que o previsto.
"Estamos estudando redução na produção", afirmou o diretor da Central de Selagem. "Se o Paraná deixar de vacinar, os laboratórios não vão produzir em excesso para ter de jogar fora", disse Silvio Cardoso Pinto. Ele disse que a redução na produção não terá grande impacto na indústria veterinária. "Quando um produto deixa de ser comercializado, um outro entra no mercado. Se o laboratório não vender vacinas contra aftosa, vai comercializar produtos contra outras doenças."
O investimento que cada pecuarista faz em vacina contra aftosa vai de R$ 0,90 a 1,50 por animal. O setor pecuário do Paraná deve gastar R$ 30 milhões a menos ao ano se puder deixar e imunizar o rebanho.
* * * * * *
O jornalista viajou a convite da Texto Assessoria, que promove uma viagem de trabalho para que a imprensa conheça a pecuária paulista.