A abertura do mercado japonês à carne suína produzida em Santa Catarina, líder nacional no abate, trouxe novo ânimo à suinocultura local. Apesar de não estar envolvido nos negócios com o Japão, o Paraná deve ser beneficiado ao assumir parte do espaço no mercado interno deixado pelo estado vizinho, que terá foco na exportação. Para as entidades do setor, a expectativa é de que a venda da produção paranaense se fortaleça e o excedente encontre comprador. Porém, a multiplicação de matrizes ainda não vem sendo confirmada.
“Qualquer carne que saia do país ajuda o Paraná. Podemos conquistar mais espaço no mercado interno”, afirma Darci Backes, presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS). “A abertura do Japão amplia os negócios dos demais estados produtores, como o Paraná e o Rio Grande do Sul”, reforça Péricles Salazar, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados (Sindicarne).
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado, o Paraná produziu 575 mil toneladas de carne de porco, 16,6% dos abates do Brasil. Apenas 54,4 mil toneladas (9,4%) foram exportadas, rendendo US$ 132,7 milhões aos produtores. O restante – 520,6 mil toneladas – abasteceu o mercado interno. A carne e derivados de suínos produzidos no estado são enviados para São Paulo e outras regiões do país.
Na Região Oeste do estado, que abriga metade da suinocultura paranaense, a notícia do feito de Santa Catarina deixou os suinocultores na expectativa da recuperação e melhora no preço da carne. Na cidade de Toledo, referência nacional em produção de suínos e com o maior plantel do estado, a economia dependente diretamente da atividade. Dos mais de R$ 1 bilhão que a região fatura com a produção agrícola, cerca de R$ 400 milhões partem dos suínos.
“Nos últimos meses o setor sofreu com o efeito gangorra, reflexo do cancelamento de alguns contratos e do excesso de oferta no mercado interno, que derruba os preços. Como a produção de Santa Catarina abastece o Brasil e agora será para exportação, o Paraná pode ocupar esse mercado que será aberto”, aponta Adilson Kulpa, Associação Regional dos Suinocultores do Oeste.
Há dois anos, os embargos russo e argentino deixaram o mercado interno sobrecarregado, jogando o preço do produto abaixo dos custos. Há meses o custo de produção estaria acima do valor de venda da carne (R$ 2,40/kg). A Rússia exige o controle da ractopamina, promotor do crescimento de suínos vivos, na alimentação dos animais – o produto é liberado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) há 10 anos. No caso da Argentina, o governo limitou em cotas as importações.
Para o presidente da APS, Darci Backes, a projeção de novos negócios no Paraná não é motivo para que os produtores aumentem o número de matrizes. O estado tem excedente de produção, além do fato de que a produtividade tem crescido nos últimos anos, aponta.
“O Paraná somente terá sucesso quando não aumentar o plantel”, diz o executivo. “Temos carne excedente para colocar no mercado”, salienta Kulpa, da associação de suinocultores do Oeste. Há cinco anos, a produtividade atingia o índice de 22 leitões/porca/ano. Após melhoramento do rebanho, a média está em 27 leitões/porca/ano.
Longo prazo
Combate à aftosa promete abrir portas em mercados exigentes
Apesar da abertura de um mercado internacional trazer ganhos econômicos e financeiros à suinocultura, o processo está longe de acontecer no Paraná. No caso de Santa Catarina, o status de área livre de aftosa sem vacinação foi determinante para que o Japão abrisse as portas do seu mercado. Atualmente, o Paraná é reconhecido como livre de aftosa com vacinação.
“É fundamental que o estado consiga o status de livre sem vacinação”, aponta Darci Backes, presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS).
No início de maio, quando aconteceu o lançamento da campanha de vacinação, o presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Inácio Kroetz, afirmou que a expectativa é de que o Brasil aumente a área sem vacinação, hoje restrita a Santa Catarina, até 2017. A mudança de status permitiria ao Paraná acessar novos mercados compradores.
Apesar dos esforços, o presidente do Sindicarne, Péricles Salazar, acredita que é cedo para o Paraná tentar mudar o status. Para ele, o estado não tem fronteiras totalmente fiscalizadas, pois não possui recursos humanos para o serviço, e ainda sofre com notícias que arranham sua imagem no exterior, como a identificação do príon da vaca louca em um animal em Sertanópolis (Norte), no ano passado. “Ainda não é o momento para tentar sustentar o status sem vacinação. Primeiro precisamos fazer o dever de casa”, resume.
Mesmo se conseguisse atingir a meta, a negociação de um contrato com um novo cliente internacional poderia durar alguns anos. No caso do processo entre Japão e Santa Catarina, as conversas levaram quase sete anos.
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