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Mesmo com as incertezas relacionadas à demanda internacional e à ampliação do risco de aftosa no continente, o Paraná vai tentar retomar as exportações de carne bovina. O governo do estado e o setor produtivo confirmam para fevereiro o lançamento de um programa que promete uma "injeção de ânimo" no setor. Os objetivos são reorganizar a atividade, melhorar a qualidade da carne e garantir padrão na oferta, fatores que teriam causado a redução dos embarques com origem no estado a zero em outubro.

O fechamento da JBS Friboi de Maringá, há três meses, faz com que mesmo a carne de qualidade produzida pelos pecuaristas paranaenses seja destinada ao mercado interno. A empresa era a última que vinha exportando. Com sua transferência para Mato Grosso do Sul, os embarques do Paraná caíram um terço na comparação entre 2010 e 2011, para perto 13 mil toneladas. Agora, é preciso ampliar a oferta de carne bovina tipo exportação para atrair novas empresas licenciadas.

Essa retomada depende de uma nova linha de gestão, avalia o próprio setor, que terá de apostar em genética e cultivo de pastagens para alcançar estados como Mato Grosso e São Paulo. Na prática, os produtores rurais têm preferido o plantio de grãos e de cana de açúcar. Os produtores que permanecem na bovinocultura não estariam investindo o suficiente em sua atividade.

"O fator econômico desestimulou a pecuária. É preciso um novo sistema de gestão da produção", afirma Rogério Berger, agropecuarista e presidente da Comissão de Bovinocultura de Corte da Federação de Agricultura do Paraná (Faep).

A criação extensiva em que o pecuarista solta o boi no pasto e espera que o animal engorde estaria fadada a desaparecer. Para o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne-PR), Péricles Salazar, a pecuária de corte precisa ser administrada como uma empresa global para se tornar lucrativa e oferecer a qualidade exigida no exterior.

A integração pecuária-lavoura-floresta nas áreas onde existe apenas gado é a melhor forma de reestruturar o negócio, conforme os especialistas do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Com lavouras de grãos, engorda de gado e cultivo de madeira, o produtor pode ampliar sua renda. "Quando há apenas uma atividade, é maior o risco de intempéries comprometerem a arrecadação", diz Daniel Perotto, pesquisador da área de melhoramento animal do Iapar.

Outra medida necessária é a adoção de raças mais produtivas. O ideal é que o animal engorde 900 gramas por dia, o que não ocorre na maior parte das fazendas de gado mestiço do Paraná.

"Independente do que se faça por aqui, o Paraná nunca será um grande produtor na quantidade. Mas podemos ganhar de outros mercados na qualidade, pois reunimos todas as condições necessárias", aponta Berner. Ele considera que, apesar do predomínio da agricultura, existe espaço para confinamentos e semiconfinamentos. Por enquanto, as propriedades que investem em genética e aproveitam de forma exemplar as terras disponívies ainda são consideradas exceção na pecuária.

Maior oferta promete atrair frigoríficos para o estado

A retomada da oferta de carne deve atrair novos frigoríficos habilitados a exportar para países da União Europeia para o Paraná e, de quebra, movimentar a economia. As instalações de empresas como o JBS Friboi de Maringá, fechado há três meses, pode ser reativadas.

"Se pudermos ampliar a pecuária, vamos atrair novamente as empresas do setor. Por enquanto, nosso rebanho é muito limitado", afirma Péricles Salazar, presidente do Sindicarne, que representa as indústrias do setor. "Basta se organizar que os frigoríficos voltam", complementa o agropecuarista Rogério Berger.

Atualmente, o Paraná não é autossuficiente na produção de carne de corte. Enquanto o consumo anual de carne bovina é de 350 mil toneladas, a produção é de apenas 312 mil toneladas. Fazendas que criam gado para cortes especiais na região de Curitiba mal dão conta da demanda de restaurantes instalados na capital, apesar da avaliação de que poderiam exportar a produção.

Existem iniciativas de melhoramento do rebanho. O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), por exemplo, trabalha no desenvolvimento da raça Purunã, resultado do cruzamento de diversas espécies, que reúne características consideradas ideais para as condições regionais de criação.

"[O Purunã] é resistente, não exige clima, ganha bom peso por dia e a carcaça atende às exigências de cobertura de gordura feitas pelos frigoríficos", diz o pesquisador do Iapar Daniel Perotto. Por enquanto, a raça é criada por cerca de 20 pecuaristas no estado. A previsão é que escala seja cada vez maior.

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