Edvino Stadikoski nunca viajou ao exterior e não fala inglês. Mas exporta frango para 20 países. Angelo Grosbelli e seus dois filhos são bem-sucedidos industriais do ramo alimentício. As hortaliças que produzem – congeladas, enlatatas ou em conservas – são muito apreciadas por consumidores de todo o Brasil. A meta, agora, é aumentar a participação no distante mercado da região amazônica.

CARREGANDO :)

Ao contrário do que a descrição acima possa sugerir, o perfil desses dois paranaenses não é o de grandes industriais. Stadikoski e Grosbelli são pequenos produtores rurais, que vivem e trabalham em sítios que não chegam a 15 hectares de área. O segredo deles não está no tamanho, mas no sistema produtivo que adotam. Ambos são ligados a cooperativas agropecuárias.

O cooperativismo – cujo Dia Internacional foi comemorado no último sábado, 1.º de julho – é um dos pilares do desenvolvimento paranaense. As 74 cooperativas do ramo no estado, que respondem por 55% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário, contribuem para manter o pequeno e o médio produtores no campo, tornando-os competitivos num mercado globalizado e dominado por multinacionais.

Publicidade

Segundo o Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), 77% dos 106,2 mil produtores do estado ligados ao sistema são de pequeno porte, com áreas de até 50 hectares. "Só por meio do cooperativismo esse produtor consegue ficar no mercado, porque ele alcança o mesmo nível de tecnologia, logística e informações sobre o mercado que as tradings", afirma Luiz Roberto Baggio, presidente da cooperativa Bom Jesus, com sede na Lapa (Sul do estado). Na cooperativa, pelo menos 20% dos 3 mil associados não possuem terra alguma e atuam em áreas arrendadas.

O segredo competitivo do cooperado é que ele não trabalha sozinho. Dependendo do arranjo produtivo a que se dedicam, as cooperativas entregam insumos aos produtores, fornecem técnicos para acompanhar o desenvolvimento da lavoura ou criação, recebem a produção, a industrializam e a exportam. É como se cada produtor fosse, individulamente, uma grande empresa, em cada uma dessas áreas de atuação. Somando as quantidades produzidas por cada associado, a cooperativa obtém escala e se torna um grande competidor no mercado.

Assim é a realidade da família Stadikoski, de Cafelândia (Oeste do estado). Ligada à Cooperativa Consolata (Copacol), com sede nesse município, a família recebe, a cada dois meses, um lote de 14,5 mil pintos. Sua missão é cuidar bem desse lote e fazê-lo ganhar peso rapidamente e com o melhor aproveitamento da ração.

Além dos pintos, a cooperativa fornece maravalha (pequenas lascas da casca da madeira, para forrar o aviário), ração, assistência técnica e medicamentos. Quando o lote atinge o ponto de abate, um caminhão da Copacol recolhe as aves e as leva ao frigorífico. A família Stadikoski banca os custos da energia elétrica e da lenha para o aquecimento do aviário nos primeiros 15 dias dos pintinhos. Também se encarrega da mão-de-obra. Descontados os custos, recebe, em média, R$ 0,25 por frango entregue.

Apesar da ajuda, não é uma vida fácil. Nas madrugadas geladas do rigoroso inverno do Oeste paranaense, Edvino, de 65 anos, e sua mulher, Nair, 61, se revezam para abastecer de lenha, a cada duas horas e meia, a caldeira do aquecedor.

Publicidade

O cooperativismo é o responsável pelo retorno da família Stadikoski ao campo. Associado à Copacol desde 1973, Edvino vivia em Cafelândia, onde foi, por 20 anos, vigia e almoxarife da cooperativa. Três dos cinco filhos do casal já trabalharam na Copacol – dois permanecem lá. Nair tinha um salão de costura. Em 1997, quando a Copacol ampliava sua atuação na avicultura, a família resolveu vender as propriedades urbanas e comprar o sítio, de 4,8 hectares.

"O aviário é a saída para a pequena propriedade. Vamos tirar R$ 18 mil neste ano. Se plantássemos soja, o rendimento não chegaria a R$ 2 mil", conta Marcos Antônio, 36 anos, que mora com os pais e cuida da gestão da propriedade. Neste ano, a atividade continua rentável, apesar da queda das exportações provocadas pela ameaça da gripe aviária. Segundo o presidente Valter Pitol, a Copacol deverá manter em 2006 o patamar do ano passado, quando foram embarcadas ao exterior 30% das 130 mil toneladas de frango produzidas.