O anúncio afobado do Plano Safra 2016/17 desta quarta-feira (4), em Brasília, foi visto com decepção por lideranças do setor. De um lado o volume de recursos (R$ 202,88 bi) foi considerado adequado. Já o aumento da taxa de juros da faixa de 7,75% a 8,75% para 8,5% a 12% deixou o segmento descontente – mesmo que as taxas ainda estejam abaixo da Selic atual de 14,15%. Mas o que pesou mais nas críticas feitas pelos produtores foi o fato de o plano ter sido feito às pressas para ser lançado um mês antes do normal, como um dos últimos atos do governo Dilma Rousseff - às vésperas de ser afastada por um processo de impeachment. Para lideranças do agronegócio, as propostas trabalhadas nos primeiros meses do ano por representantes da agropecuária de todo o país foram “ignoradas”.
O economista Pedro Loyola, da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), aponta que o as propostas ao Plano Safra deste ano foram enviadas na segunda quinzena de abril. Em 15 dias, o processamento das sugestões enviadas ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) seria inviável. “Quando uma coisa é feita às pressas, fica de fora muita coisa. Não se falou nada sobre seguro, não se falou nada sobre pró-agro. Temos crédito, reconhecemos que há uma boa evolução nesse aspecto. Mas quando vamos na questão da gestão agrícola, não temos nenhuma novidade”, critica. Ele cita que não adianta o produtor ter acesso a financiamento se as linhas são inviáveis financeiramente, especialmente em linhas como para fazer adequações ambientais nas propriedades.
O superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti, também se mostra preocupado em relação ao aumento na taxa de juros. Ele explica que os custos de produção aumentam ainda mais e há uma insatisfação geral com a redução de alguns programas de investimento, como a construção de armazéns, que teve uma queda de 11% para a próxima safra. “Somente no Paraná existe uma capacidade instalada de 25 milhões de toneladas de grãos, mas a safra do estado ultrapassa os 38 milhões. Com menos recurso, pode ficar ainda mais complicado”, pondera Mafioletti, que também se preocupa com o seguro rural. “Esse valor [R$ 400 milhões] é insuficiente perto da nossa demanda. Com o aumento da taxa de juros, mesmo que pequena, o produtor rural não vai deixar de plantar, mas com certeza vai ficar reticente e as contas vão apertar”, explica Mafioletti.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Endrigo Dalcin, considerou “decepcionante” e reclamou da elevação das taxas de juros controlados, de 0,75 ponto porcentual, em média. A entidade havia solicitado taxas menores para custeio, 1,25 ponto porcentual abaixo da temporada anterior, e esperava ao menos a manutenção dos níveis praticados até então. “O setor devolve (o volume de recursos empregado na equalização das taxas de juros) rapidamente com empregos, recursos, superávit de balança comercial. Nossa indústria é a céu aberto e o governo precisa coordenar essa economia de forma coerente”, declarou ele que um eventual novo governo terá de reanalisar o plano apresentado.
Instituições financeiras
A elevação na taxa de juros do Plano Safra é um aspecto negativo ao setor, conforme avalia o diretor executivo da Sicredi, Rogério Machado. “O agronegócio é o que tem dado sustentação à economia do país e eu me preocupo muito quando tem um aumento de juros em um setor crucial. A elevação deixa a operação de crédito mais cara e ele mexe diretamente no custo de produção”, diz. O diretor alerta que apesar de o anúncio ser de mais crédito, o volume de crédito que o mercado vai oferecer depende da conjuntura do mercado. “O crédito rural é um recurso oriundo também da composição do depósito à vista dos bancos. Com a taxa Selic a 14,5%, esse recurso tende a ficar escasso no mercado. Temos preocupação que tenha recurso suficiente para disponibilizarmos esse limite. Mas isso é mercado, não existe como fazer previsão”, relata.
Para produtora, Plano Safra não resolve problemas práticos
Produtora rural na região de Maringá, Olga Maria Agulhon diz que o Plano Safra não trouxe alento para os problemas que ocupam a agenda de preocupações dela. Com prejuízos por excesso de chuva na colheita da soja e perdas anunciadas no milho do próximo ano pela seca, Olga diz que a agropecuária precisa de garantias. “Financiamento temos várias possibilidades, mas sobre seguro estamos desamparados. No máximo os seguros cobrem o financiamento, mas não o orçamento geral da lavoura, os gastos que produtor tem e muito menos o seguro de renda para se manter durante o ano”, enfatiza.