Marc van Montagu, pesquisador da Universidade de Ghent (Bélgica) expert em biotecnologia.
Plantas resistentes à seca poderiam viabilizar a produção de soja em regiões de clima adverso, como o Chaco. Quão distante a agricultura está dessa possibilidade?
Já conseguimos desenvolver plantas resistentes ao estresse abiótico em laboratório com desempenho bastante interessante. Esses resultados, no entanto, precisam ser submetidos a testes de campo, porque, no laboratório, as circunstâncias são muito diferentes das do ambiente real de produção. Precisamos entender uma série de interações entre a planta e o ambiente. Sabemos pouco, por exemplo, sobre os solos de regiões áridas e sobre como as cultivares resistentes que já temos se adaptariam a eles. A resposta pode estar em plantas que já conhecemos. O sorgo já é naturalmente mais resistente ao clima seco. O milho, ao menos as variedades antigas, já foi encontrado em climas quase desérticos.
A biotecnologia tem falhas no controle de insetos e plantas daninhas. Em pouco tempo, surgem insetos capazes de sobreviver a plantas Bt. Os cientistas estão desapontados?
A biotecnologia não pode ser responsabilizada por essa situação. Num cenário em que a agricultura é cada vez mais intensiva, em que semeamos ano a ano áreas cada vez maiores com plantas geneticamente similares, é esperado que problemas relacionados ao controle de insetos e ervas daninhas se tornem mais difíceis de resolver. Na natureza, onde a variabilidade genética das plantas é maior, essa situação provavelmente não aconteceria. Fato é que a agricultura intensiva é necessária, pois sem ela jamais poderíamos atender à demanda mundial por alimentos.
Na safra 2013/14, o preço das sementes transgênicas é considerado caro por boa parte dos produtores. É possível esperar custo mais acessível?
Precisamos é que mais empresas e instituições estejam aptas a participar desse mercado e assim gerar desenvolvimentos cada vez mais acessíveis ao produtor. Simplificar a regulamentação baratearia o custo da pesquisa. Essa medida habilitaria empresas menores a participar do mercado e a gerar inovação a custos mais baixos. O que vemos, no entanto, é a regulamentação em biotecnologia se tornando cada vez mais demorada e, por conseguinte, mais cara. Grandes corporações são provavelmente as únicas organizações no mundo capazes de arcar com os custos impostos pela regulamentação atual.
Quão distante estamos do desenvolvimento de alimentos geneticamente modificados com características nutricionais superiores, capazes, inclusive, de prevenir doenças?
O arroz dourado, enriquecido com betacaroteno, uma forma de vitamina A, foi desenvolvido em 1999 e está prestes a ser liberado comercialmente – portanto já é uma realidade. Sendo o arroz um alimento amplamente consumido pela população, essa nova variedade pode combater carências nutricionais. Especialmente na Ásia, onde é base da alimentação e onde a carência de vitamina A é a maior causa de cegueira infantil. Os resultados obtidos até agora sinalizam o que pode ser feito com outros alimentos. Tenho certeza de que, em breve, teremos muitas aplicações voltadas à saúde e ao bem-estar da população. Isso vai ocorrer em cinco, dez, vinte anos? Não sei! Depende do que a sociedade fizer agora.