Maringá Más notícias continuarão tirando o sono dos sojicultores paranaenses neste ano. Depois de duas safras reduzidas por causa da seca, as perspectivas para o próximo ciclo são negativas. Há previsão de colheitas recordes nos Estados Unidos e na Argentina os dois principais concorrentes do Brasil , o que deverá elevar ainda mais os já altos estoques internacionais, mantendo, ou até derrubando, os preços do grão, atualmente defasados por causa da valorização do real frente ao dólar.
Neste ano, a Argentina deverá colher um volume recorde, de 40 milhões de toneladas de soja. Os Estados Unidos já anunciaram a intenção de plantar 31,1 milhões de hectares, a maior área já cultivada com a leguminosa. Se não enfrentar problemas climáticos, a safra norte-americana, que está sendo plantada entre abril e maio, deverá superar os 80 milhões de toneladas. No Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), prevê uma colheita de 55,7 milhões de toneladas.
Neste ano, a expectativa é de que os estoques mundiais de soja atinjam o volume recorde de 53 milhões de toneladas. "Isso significa que teremos o equivalente a uma safra brasileira armazenada no mundo, pressionando os preços para baixo", prevê o agrônomo Fabio Meneghin, analista da consultoria Agroconsult, sediada em Florianópolis (SC). O preço atual pago ao produtor paranaense, na faixa dos R$ 24 a saca de 60 quilos, é o mesmo de maio de 2002. No ano passado, a saca chegou R$ 34 e, em 2004, atingiu o pico de R$ 55.
Desanimado, sem dinheiro e com dívidas, o sojicultor brasileiro planeja reduzir a área plantada. Estimativa da Agroconsult aponta que 1 milhão de hectares deixarão de ser cultivados no país na próxima safra um corte de 4,5% da área atual, de pouco mais de 22 milhões de hectares. "Acredito numa redução muito maior. O produtor já sabe que, se plantar, colherá prejuízo", acredita Homero Pereira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). O estado lidera a produção nacional de soja, com previsão de colher 22,1 milhões de toneladas neste ano.
Na safra atual, a área total cultivada em Mato Grosso com soja e outras culturas foi reduzida em 800 mil hectares. Segundo Pereira, além dos preços baixos, a produtividade terá quebra de 10%, por problemas climáticos e de infra-estrutura. "Só o frete e a aplicação de fungicida contra a ferrugem estão consumindo 50% da produção."
O Paraná não deverá sofrer redução na área com soja, avalia Otmar Hubner, agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura. "A soja tem custo menor e tratos culturais mais fáceis que o milho, a outra opção como cultura de verão. Em termos de preço, o milho está tão ruim quanto a soja", diz Hubner. Já foram colhidos quase 80% dos 3,88 milhões de hectares de soja no estado.
Na região de Maringá (Noroeste do estado), a produtividade média registrada é de 30 sacas por hectare, contra 50 sacas em anos normais. As principais causas foram a seca houve "veranicos" durante 20 dias em novembro, 15 em dezembro e 25 em janeiro, situação agravada pelo calor forte e o baixo uso de tecnologia. Descapitalizados, os produtores usaram sementes de baixa qualidade e reduziram a adubação.
O produtor Romeu Egoroff Filho, de Iguaraçu (Noroeste), reclama dos custos de produção. "Os preços dos insumos não acompanharam a queda do dólar. Há dois anos, você pagava uma colheitadeira nova com 3,8 mil sacas de soja. Hoje, são necessárias 15 mil sacas".
"É a pior crise de renda dos últimos 30 anos, agravada pela baixa produtividade e os altos custos de produção", diz Osmar Benedito de Oliveira, dono de 800 hectares em Maringá. Luís Eduardo Pilatti Rosas, presidente do Sindicato Rural dos Campos Gerais, afirma que 70% dos produtores da região terão dificuldades para pagar suas dívidas e custear a próxima safra. Segundo ele, a receita por hectare de soja é de R$ 1,2 mil, apenas R$ 200 acima do custo de produção. Para muitos, a solução será a redução da área plantada. Antônio Pedrini vai diminuir em 250 hectares a área cultivada com soja, em terras arrendadas, e manterá apenas a área própria, de 1,6 mil hectares, em Floresta (Noroeste). Na região, muitos produtores deverão migrar para a cana, para atender à crescente demanda das usinas.
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