Forte queda nas bolsas chinesas registrada nas últimas semanas ameaça se tornar um problema global atingindo em cheio o Brasil. Chineses são Os chineses são fortes compradores de petróleo, soja, minério de ferro.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), há muitos reflexos para o Brasil, já que a "China é o principal cliente". Ele cita o caso da queda do preço do minério de ferro, principal produto vendido para a China, que atingiu um dos menores patamares do ano, abaixo de US$ 50 por tonelada.
Em sua avaliação, "o mercado de soja no Brasil vai sofrer apenas em 2016". "Como a China ainda é maior importadora de petróleo do mundo, um menor crescimento pode reduzir ainda mais o preço do petróleo, colocando o pré-sal na dúvida", disse Castro. A oleaginosa tem acompanhado o preço do petróleo e a demanda chinesa por proteína.
Ainda não há consenso sobre o que detonou a crise, mas a Bolsa de Xangai, por exemplo, já caiu 27,4% desde 1.º de junho. Em 12 meses, havia registrado alta de 70,3%, perdendo ritmo em 2015. As medidas do governo chinês ainda não surtem o efeito esperado por Pequim. " Se as medidas serão suficientes só saberemos nos próximos dias", diz o professor de Economia da Unicamp Giuliano Contento de Oliveira.
Segundo Rodrigo Zeidan, professor de economia e finanças da Fundação Dom Cabral (FDC), a queda nas bolsas chinesas começa a se transformar em um problema global. Ele cita a queda da Bolsa de Hong Kong, que caiu ontem por conta das incertezas na China.
"As bolsas da China não são abertas ao fluxo de capital internacional, pois são basicamente compostas por compradores chineses. Mas, mesmo sem fluxo internacional, começam a afetar outras bolsas, como a de Hong Kong, que tem capital internacional e se reflete em todo o mundo", avalia Zeidan. Mais da metade das empresas suspenderam negócios temporariamente nesta semana.
O ex-presidente do Banco Central (BC), Carlos Langoni, diz que a China representa uma ameaça muito maior para o Brasil do que os problemas atuais envolvendo a Grécia. Ele diz que uma expectativa de menor crescimento na China vai derrubar ainda mais os preços das commodities, criando um desequilíbrio na taxa de câmbio.
"Quando ameaça desacelerar, a China reduz os juros e aumenta o crédito. Mas aí cria uma ameaça de inflação. É stop and go. Os movimentos da Bolsa são reflexos da economia real, mas com seus exageros. Agora, a Bolsa vai se ajustar a uma nova realidade", explicou Langoni.
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, lembra que um dos motivos que fez a bolsa chinesa começar a cair foi justamente a previsão de que a economia vai crescer menos de 6% neste ano.
"Essa expectativa baixa para os padrões chineses acabou se refletindo na Bolsa, criando um efeito manada entre os investidores chineses. E, com uma percepção de menor crescimento, as empresas tendem a ser mais cautelosas, reduzindo seus investimentos no exterior. E isso é ruim para o Brasil, já que o governo vem tentando atrair essas empresas para os setores de transporte e petróleo", analisa.
Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, ressaltou que, após os programas de redução de juros na China e a injeção de moeda na economia, a Bolsa asiática subiu fortemente desde o ano passado, mas hoje não consegue se sustentar justamente porque a economia começou a desacelerar em ritmo maior que o esperado.
"E essa queda na China pode retardar o crescimento global em um momento em que Europa tenta voltar a crescer e os EUA já estudam elevar os juros para conter a inflação por conta do crescimento", disse Raphael.
"O crescimento do mercado não tinha fundamento na economia real, pois a economia passa por um processo de redução do ritmo de crescimento. Por isso, acredito que o mercado esteja passando por um ajuste", avalia Eduardo Pinto, do Instituto de Economia da UFRJ.
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