Os rumores de que a China poderá aumentar os juros para conter a alta dos alimentos e aliviar a inflação derrubaram o mercado da soja e esfriaram a comercialização da safra 2010/11 no Brasil. Surpreendidos por uma queda de quase 10% nos preços internacionais em apenas seis dias, os produtores brasileiros começaram a segurar as vendas, que vinham evoluindo em ritmo acelerado nos últimos meses.Com perto de um terço da safra comprometido, eles agora avaliam com mais cautela o mercado e aguardam uma definição para retomar as negociações. As consultorias que monitoram o mercado atualizam seus números nos próximos dias e devem divulgar índices ainda bem à frente dos verificados nesta mesma época do ano passado.
Quando se depara com especulação, o produtor tende a ficar mais cauteloso, defende Aedson Pereira, analista da AgraFNP. Na avaliação da consultoria, isso ocorre desde o mês passado, antes do mergulho das cotações da soja em Chicago, momento em que um quarto da safra brasileira tinha proteção de preço.
"No início do ano, a perspectiva de preço para a colheita era ruim. Como o mercado subiu mais que o esperado, o produtor travou mais que o de costume e agora está bastante reticente em vender", observa Enoir Pellizzaro, técnico da C. Vale, de Palotina. (Oeste do Paraná).
Quando Chicago bateu em US$ 13,30, no último dia 11, pouca gente aproveitou o pico. Por outro lado, quando voltou a US$ 12, boa parte dos produtores já tinha o custo de produção garantido. A maior parte dos negócios foi fechada entre agosto e outubro, quando o mercado trabalhava entre US$ 10 e US$ 12,50 por bushel (27,2 quilos) na Bolsa do Chicago algo entre US$ 22 e US$ 28 a saca de 60 quilos. O maior preço representa R$ 48 por saca.
Para garantir o retorno do investimento feito na lavoura de soja, Luiz Eduardo Pilatti, de Ponta Grossa (Campos Gerais) vendeu 20% da safra. Quando entregar o grão, em abril, receberá R$ 42 por saca. Pensando na renda do ano que vem, comprometeu outros 15% da produção para aproveitar o preço de R$ 44 durante o plantio.
José Luiz Chinaglia, de Cambé (Norte), adotou estratégia diferente. Travou 40% da safra nova para cobrir custo e depois disso passou a priorizar a venda dos grãos que sobraram da última colheita. Na área de atuação da Coamo (Campo Mourão), 23% da soja que acabou de ser plantada têm proteção de preço, sendo que cerca de 10% foram negociados em troca de insumos para safra de verão.
Aldo Natal Hanel, de Campo Mourão (Centro-Oeste), conta que geralmente antecipa a venda de 30% da safra, mas neste ano comprometeu apenas 23% da produção antes do plantio. Fechou negócios a em média R$ 39 a saca para custear o desembolso e depois passou a segurar as vendas porque acredita que conseguirá valores ainda melhores até a colheita.
Mais agressivo, Anton Gora, de Guarapuava (Campos Gerais), tem metade da safra que colherá no ano que vem comprometida a R$ 41 (média). Normalmente, vende cerca de 30% da produção com antecedência, mas resolveu aumentar esse porcentual neste ano depois de uma experiência bem sucedida na temporada anterior. "No ano passado acertei em cheio. Vendi antecipado a R$ 43 e logo depois o mercado caiu para R$ 33", recorda.
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