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Não foi só o plantio menor que puxou os preços para cima. Qualidade dos grãos também pesou. | Antônio More/Gazeta do Povo
Não foi só o plantio menor que puxou os preços para cima. Qualidade dos grãos também pesou.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

O feijão nosso de cada dia está mais caro. Dados da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) revelam que o feijão carioca, o mais consumido do país, ficou 26,3% mais caro ao longo de 2015. O feijão preto, tipo mais vendido em Curitiba e no Rio de Janeiro, também ficou difícil de engolir e sofreu um reajuste de 16,3% apenas em janeiro deste ano. Nas prateleiras dos supermercados, o quilo dos dois tipos é vendido, em média, a R$ 4,96 (carioca) e a R$ 3,92 (preto). E por enquanto não deve parar de subir.

Para o produtor Cariton Lopes Pimenta, o feijão será o vilão da dona de casa. Hugo Harada / Gazeta do Povo

16,5
kg

por habitante/ano é a média de consumo de feijão do brasileiro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Feijão (Ibrafe). No anos de 1960, esse número girava em torno de 26 kg/hab/ano. A queda drástica no consumo da leguminosa foi provocada pelas mudanças alimentares dos últimos anos. Segundo o Instituto, o continente americano é responsável pela metade do consumo de feijão no mundo.

O preço pago ao produtor também acompanhou o varejo. Em janeiro deste ano, em algumas praças do Paraná, o preço médio da saca de 60 kg de feijão chegou a R$ 171 para o carioca e R$ 133 para o preto. Aumentos de 19,8% e 6,1%, respectivamente, em relação ao ano passado.

Confira a escalada de preços do feijão

Feijão em alta

O presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (IBRAFE), Marcelo Lüders, fala sobre os desafios do grão.

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O fator mais importante para a disparada no preço da leguminosa foi a chuva que castigou o campo entre outubro do ano passado e o começo deste ano, o que atrasou o plantio e prejudicou a colheita da primeira safra, também chamada de ‘feijão das águas’. “Nós tivemos um El Niño muito forte, que diminuiu a produtividade. Nos estados de São Paulo, Minas e Goiás, tivemos a seca no fim do ano passado. E na região Sul, o excesso de chuvas”, diz o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Eduardo Lüders.

A queda na área destinada à cultura também contribuiu para alta do produto. Conforme estimativa da Seab, no Paraná, maior produtor brasileiro, a área plantada do grão na primeira safra 2015/16 foi de 180 mil hectares, uma queda de 6% sobre o ano anterior. O volume produzido também caiu para 294 mil toneladas – 40 mil t a menos que em 2014/15.

Segundo Alexandre Stival, CEO da Stival Alimentos, proprietária da marca de feijão Caldo Bom, líder de vendas na região Sul, o mercado está há 45 dias sem o produto. “Feijão é um mercado muito agressivo. Muita gente deixou de plantar o grão para apostar na soja, que está com um preço muito competitivo. Também tivemos toda aquela chuva em outubro e novembro. O preço explodiu”, afirma. A Caldo Bom vende 1,5 milhão de quilos de feijão por mês.

A qualidade do feijão também influenciou os preços. De acordo com Carlos Alberto Salvador, técnico da Seab, grande parte das lavouras paranaenses sofreu com a incidência de pragas, uma vez que o clima excessivamente úmido dificultou o manejo no controle de fungos e insetos. “No momento da colheita as intensas chuvas acarretaram atraso na colheita e baixa na qualidade devido a defeitos como grãos chochos, brotados, ardidos ou mofados”, explica. “Foi difícil achar grãos bons. E quem achou, comprou rápido. Lei de oferta e demanda”, acrescenta Stival.

Se o tempo ajudar, preço da leguminosa normaliza em maio

A segunda safra de feijão, também conhecida como ‘safra das secas’, já começou a ser plantada. No Paraná, a previsão é cultivar 202 mil ha e colher 391 mil t. Com clima favorável, a partir de maio, a previsão é que os preços recuem. “Se o tempo ajudar, vai entrar muito feijão no mercado e é possível que o preço recue e volte ao antigo patamar. Caso contrário, vamos precisar esperar o segundo semestre. E até lá é muito tempo”, diz Alexandre Stival, da Caldo Bom.

O presidente do Ibrafe também está confiante de que os preços vão cair em breve. “A cultura do feijão é muito rápida. São 90 dias entre plantar e colher. No começo de maio, os consumidores já vão notar a diferença no preço”, afirma Marcelo Lüders.

Mas nem todo mundo está confiante. Em Minas Gerais, a área de feijão deve diminuir na próxima safra por conta do alto custo de produção. Cariton Lopes Pimenta, que planta 725 hectares da leguminosa no município de Centralina, no estado mineiro, diz que o preço dos insumos e o ataque de pragas, que exigem aplicações extras, estão afugentando os agricultores. “Deste jeito, sem produção e com oferta reduzida, o feijão será o vilão da dona de casa. Irá puxar a inflação para cima”, descreve.

GA
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