Praticamente lotado, o armazém gigante que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mantém em Ponta Grossa mostra-se debilitado enquanto pulmão para a produção de grãos do Paraná no inverno. A produção de trigo pode chegar a 2,9 milhões de toneladas, o suficiente para encher o complexo sete vezes.
Considerado todo o estoque atual da unidade (311 mil toneladas), 67% dos grãos são do governo. São mais de 200 mil toneladas de produtos 88% trigo comprados pela Conab nos últimos anos em operações de AGF (Aquisições do Governo Federal) e contratos de opção de venda. Com os preços de mercado ainda abaixo do mínino, o governo não pode esvaziar os armazéns, pois deprimiria ainda mais as cotações.
Em média, a saca do trigo paranaense vale hoje pouco mais de R$ 22 no mercado disponível. O preço mínimo de garantia da Conab para as classes pão e melhorador, cultivadas no estado, são de R$ 31,80 e R$ 33,30, respectivamente.
Se as cotações não reagirem nos próximos meses, é muito provável que o governo precise novamente intervir no mercado, comprando trigo de produtores para segurar a queda dos preços. Mas para isso irá precisar de espaço.
"A entrada da nova safra de trigo já preocupa. Uma possível solução seria transferir esses estoques paranaenses para outros estados, mas isso também não é possível porque todas as unidades da Conab estão lotadas", diz o gerente da unidade, Sérgio Roberto Piakowski.
O superintendente regional da Conab no Paraná, Lafaete Jacomel, afirma que uma forma de amenizar o problema seria escoar o trigo velho para moinhos de outras regiões consumidoras brasileiras através de leilões de VEP (Valor de Escoamento de Produto), em que o governo concede subvenção ao frete para ao comprador que aceite pagar o preço mínimo pelo produto público. "É uma das possibilidades que estamos estudando", revela.
Mesmo com plantio 16% menor, o Paraná deve colher 11% mais trigo que no ano passado. A esse volume (2,9 milhões de toneladas) e aos estoques públicos, somam-se quase 300 mil toneladas que, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), sobraram da safra anterior.