A safra norte-americana de soja e milho se aproxima do início da colheita com risco cada vez menor de problemas na produtividade. Com chuvas bem distribuídas e temperaturas amenas, o clima está sendo um aliado das lavouras. A preocupação é com o risco de queda nos preços diante da oferta ampliada. Especialistas no assunto defendem que a inversão no ciclo de valorização dos grãos abre um processo de redefinição da economia rural. O fato serve de alerta para outros países que também impulsionaram largamente o cultivo de soja e milho.
Na avaliação do economista e diretor do Centro de Agricultura Comercial da Universidade de Purdue (Oeste de Indiana), James Mintert, a queda nos preços gerada pelo aumento na produção de soja e milho vai comprometer a rentabilidade dos produtores já nesta safra. Com isso, chega ao fim um ciclo de sete anos de receita extremamente positiva, aponta. Nem mesmo os subsídios dados pela nova lei agrícola do país, a Farm Bill, podem reverter esse cenário. “A Farm Bill vai oferecer subsídios para suavizar esse golpe, mas a ajuda será modesta.”
A mudança de cenário deve desencadear uma reação em série na economia agrícola do país. O primeiro impacto vai ocorrer sobre os preços de terras e arrendamento, que devem entrar em um ciclo de baixa, mesmo que lento, avalia Mintert. Ele calcula que a redução alcançará entre 15% e 30% em cinco anos.
O quadro de renda menor também vai atingir a indústria de máquinas agrícolas. “Os fabricantes vão ter que reduzir a produção, mas são as concessionárias que mais irão sofrer, pois estão no meio do processo”, complementa o economista.
Mas se a retração afeta negativamente a atividade agrícola, também serve de impulso para a pecuária bovina. A alta dos grãos encareceu os custos com a ração animal, favorecendo uma redução no rebanho. Agora o caminho é inverso. Como houve redução do plantel, a rentabilidade deve ser temporariamente maior. “A moeda virou. Nos próximos três ou quatro anos o lugar para se ganhar dinheiro será a pecuária”, argumenta.
Tranquilidade
Os agricultores tratam o assunto sem muito temor. Na região de Lacrosse (Noroeste de Indiana), a família Schafer usa a experiência de mais de 40 anos na agricultura como referência para o que está por vir. “Enfrentamos altos e baixos, faz parte da nossa atividade. Uma vantagem é que somos donos da maior parte da terra. Então, conseguimos absorver parte dos custos”, revela Verne Schafer, patriarca da família.
Os Schafer cultivam 526 hectares de milho e 445 hectares de soja. O clima deve render produtividades ligeiramente abaixo da safra 2013/14, mas ainda assim o resultado é considerado positivo. A meta é colher 192 sacas por hectare do cereal, enquanto para a oleaginosa a previsão é de 66 sc/ha.
Cerca de 25% da produção de milho foi vendida antecipadamente, ao preço de US$ 4,50 por bushel. No pico da safra a perspectiva é receber US$ 3,30/bushel pelo cereal e US$ 10/bushel pela soja. Para driblar os preços baixos, os armazéns se tornam um importante aliado. Com capacidade para estocar 250 mil bushels de milho, o grupo de agricultores calcula que pode obter receita extra de US$ 0,50 por bushel para vendas fora da época de safra.
Manejo: Plantas daninhas resistentes são novo alvo da biotecnologia
No meio das lavouras de soja dos Estados Unidos, plantas maiores brigam por espaço. Trata-se de ervas daninhas resistentes ao glifosato – herbicida mais usado na agricultura. O problema se repete em áreas de milho e algodão e, conforme a consultoria Stratus Agri-Marketing, já afeta 28 milhões de hectares de lavouras norte-americanas (28% da área total de grãos). A principal preocupação no país é com as plantas do gênero Amaranthus, conhecidas como Caruru, entre outras seis ameaças.
O crescimento na incidência desses casos chamou a atenção das empresas de químicos e sementes, que direcionam investimentos nessa direção. Sediada em Indianápolis, nos Estados Unidos, a multinacional Dow AgroSciences estruturou seu principal projeto de desenvolvimento nesta frente. Batizado de Enlist, o sistema reúne um pacote de soluções que inclui novos defensivos químicos e sementes geneticamente modificadas.
No aspecto químico, a empresa aposta em uma nova formulação do herbicida 2,4 D, que terá versão pronta com glifosato, para ampliar o espectro de ação, explica o líder global da área de biologia da Dow, Mark Peterson. Como complemento a empresa também coloca no mercado as sementes Enlist, que serão tolerantes a três princípios ativos (2,4 D, glifosato e glufosinato).
Serão comercializadas cultivares Enlist de soja, milho e algodão. Primeiro no Canadá e nos EUA. No Brasil, as autorizações devem sair até o final de 2016. Com a liberação, a Dow também começará a comercializar sementes de soja Bt (resistentes a lagartas), rivalizando com a tecnologia Intacta RR2 PRO da multinacional Monsanto, que estreou no país na safra 2013/14.
Com o projeto Enlist a Dow almeja assumir posição preponderante no mercado de sementes, especialmente para a cadeia do milho. O presidente e CEO da empresa, Tim Hassinger, revela que o produto terá papel importante no mercado brasileiro. “O Brasil é o nosso segundo maior mercado e faz parte da nossa estratégia de longo prazo. O Enlist não é a única tecnologia que vamos levar ao país, mas ainda assim é muito importante”, afirma.
O jornalista viajou a convite da Dow AgroSciences.