Uso do glifosato faz parte da metodologia de plantio direto, apontada como a mais benéfica do ponto de vista ambiental| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Às vésperas do plantio da próxima safra, o setor produtivo diz ser inviável iniciar os trabalhos sem o uso do glifosato - herbicida agrícola que voltou a ser alvo de polêmica. Na semana passada, um júri da Califórnia condenou a Monsanto a pagar indenização de US$ 289,2 milhões a um homem que afirma ter contraído câncer devido à exposição a um herbicida com glifosato produzido pela empresa.

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Antes disso, no dia 3 de agosto, a Justiça Federal no Distrito Federal já havia suspendido o registro de produtos à base do ativo a partir de 3 de setembro até que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conclua reavaliação toxicológica. A expectativa é de que a Advocacia-Geral da União (AGU) recorra da decisão, usando como subsídios informações do Ministério da Agricultura, até a próxima semana.

“Sem glifosato não tem safra no Brasil”, disse o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antonio Galvan. Ele lembra que o Brasil adota o sistema de plantio direto, que é a semeadura da nova safra diretamente após a colheita da anterior.

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A partir da retirada do milho safrinha do campo, o que deve ser finalizado este mês, o glifosato é jogado para eliminar a cobertura vegetal ou plantas daninhas que ficam no solo, como preparação para o plantio da soja, que no Brasil começa em setembro. Com isso, o produtor evita ter de arrancar essa cobertura e revirar o solo, aproveitando a matéria orgânica como adubo.

O superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná, Robson Mafioletti, diz que o glifosato está na chamada faixa verde dos defensivos agrícolas, para produtos considerados menos tóxicos em caso de aplicação errada. “Sem ele, o Brasil teria dificuldade de fazer o cultivo de 35 milhões de hectares na safra 2018/19.”

Justiça

Na decisão no DF, a juíza federal Luciana Raquel Tolentino de Moura cita nota técnica emitida pela Fundação Oswaldo Cruz sobre o risco à saúde causado pelos agrotóxicos. “Tanto para os trabalhadores expostos a essas substâncias quanto para os consumidores de culturas tratadas e para a população, razão pela qual necessitam de uma detalhada avaliação para obtenção de registro”.

Em seu relatório, a magistrada afirma que, apesar de a Anvisa ainda considerar o glifosato como substância pouco tóxica, estudos promovidos pela própria autarquia concluíram que o tratamento com glifosato mostrou aumento significativo de “aberrações cromossômicas”.

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A decisão judicial está atrapalhando a distribuição do produto em Mato Grosso. “As revendas não entregam aos produtores porque entendem que estariam suspensas as vendas e temem punição”, disse Galvan.

Em nota, a Monsanto afirmou que “o glifosato é vital para a agricultura brasileira”. Em avaliações de quatro décadas, a conclusão de especialistas em todo o mundo - incluindo a Anvisa, autoridades reguladoras nacionais nos EUA, Europa, Canadá, Japão e outros países, além de organizações internacionais de ciência e saúde - tem sido que o glifosato pode ser usado com segurança.”