Telêmaco Borba Embora consista no plantio de árvores, a silvicultura é uma atividade que pode causar sérios danos ao meio ambiente. Num país manchado pela derrubada ilegal de mata nativa, principalmente na região amazônica, o setor de base florestal hoje busca uma imagem preservacionista, motivado principalmente por uma razão econômica: cada vez mais os importadores exigem certificações que atestem que os produtos usaram matéria-prima de áreas em que as regras ambientais são respeitadas.
A exemplo das lavouras agrícolas, a silvicultura precisa seguir obrigações como mata ciliar nativa nas margens de rios, reserva legal e a proibição do uso do fogo no manejo florestal. "É preciso conciliar a necessidade das florestas plantadas com espécies exóticas e a conservação ambiental", afirma o engenheiro florestal e advogado Sérgio Ahrens, da Embrapa Florestas, especialista em Direito Ambiental. Enquanto o pinus e o eucalipto rendem até 40 metros cúbicos por hectare/ano, as espécies nativas não passam dos 2 metros cúbicos.
Clóvis Borges, diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), diz temer que os incentivos governamentais e privados à silvicultura levem à substituição da mata nativa por florestas cultivadas. O apoio à atividade começou no final da década de 60 e hoje é mantido com os programas Propflora e Pronaf, este último para a pequena propriedade.
Borges vê a ameaça da expansão de uma "monocultura de árvores", tão nociva ao meio ambiente quanto as monoculturas agrícolas. Ele defende a adoção de incentivos fiscais também para a conservação de áreas nativas, principalmente dos remanescentes de florestas com araucária, das quais resta no Paraná menos de 1% da cobertura original e cuja extinção completa poderá ocorrer até 2015. "Está nas mãos das empresas de base florestal conservar o que sobrou", afirma o representante da ONG ambientalista.
Uma das empresas de base florestal que está aderindo a esse programa é a Masisa. Com o apoio da SPVS, ela vai criar duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural, que somarão 1,3 mil hectares. São "ilhas" de araucárias em meio às plantações de pinus da empresa. A Masisa, que chegou ao Paraná há cinco anos, segue o exemplo da sexagenária Klabin. No Paraná, a empresa implantou o sistema de manejo em forma de mosaico: mescla florestas de pinus e eucalipto com mata nativa preservada. Dos 230 mil hectares que possui, em 11 municípios paranaenses, 38% (85 mil hectares) são de mata nativa. Isso, aliado a um programa de recuperação da fauna regional, ajudou a Klabin a ser a primeira empresa do mundo a obter a cobiçada certificação do FSC (Conselho de Manejo Florestal, na sigla em inglês), para os dois produtos da fábrica de Telêmaco Borba: papel-cartão e kraftliner.
Na avaliação de Sérgio Ahrens, da Embrapa Florestas, a silvicultura pode ser um exemplo ambiental, desde que siga as leis. "As florestas não usam adubos e pesticidas químicos, exigem um manejo menos freqüente do solo, melhoram a qualidade da água e as condições climáticas, reduzindo a velocidade dos ventos e evitando temperaturas extremas", enumera. Na prática, nem sempre é assim. Pesquisa da própria Embrapa descobriu um sério desequilíbrio ambiental nas florestas plantadas no Paraná: por falta de árvores nativas, os macacos-prego, que se alimentam de seus frutos, estavam atacando as áreas com pinus, para comer a seiva da planta.
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