Foz do Iguaçu e Curitiba - Especialistas e agricultores brasileiros e paraguaios defendem a urgente revisão do Plantio Direto na Palha (PDP) . Difundida em todo o mundo, a técnica de preparo de solo aplicada no Brasil há quase 40 anos vem sendo sistematicamente descaracterizada, alertam os participantes do simpósio "Qualidade Garantindo Sustentatibilidade", que é realizado pela Federação Brasileira do PDP e termina amanhã, em Foz do Iguaçu. O desrespeito à rotação de culturas é apontado como o principal problema.
Apesar de cerca de 90% das lavouras do Paraguai e 60% das do Brasil adotarem o PDP, conforme as estimativas mais difundidas, os produtores estariam sendo pouco rigorosos. Esse desvio limita benefícios como a retenção de gases do efeito estufa, a melhoria da qualidade da água, a proteção dos mananciais.
"Em algumas propriedades, observamos lavouras tomadas pela erosão e os rios com índices de assoreamento iguais aos notados antes da adoção do plantio direto", disse o representante do Ministério da Agricultura e Pecuária do Paraguai, Miguel Ken Moriya.
"Há um certo exagero na demonização da soja. Mas, não podemos negar que o avanço dessa cultura é um dos principais obstáculos à rotatividade de culturas", apontou o representante da federação Ivo Mello. A técnica exige a periódica substituição da soja pela aveia, passando pelo trigo e pelo milho.
Mello lembra que, das commodities, a soja é a mais rentável, competitiva e com maior garantia de retorno financeiro ao agricultor. Muitos produtores se concentram apenas na oleaginosa e não se preocupam com a terra no inverno, alerta.
Ele defende o pagamento de créditos de carbono para agricultores que adotarem de forma correta o PDP, preservando mananciais. A proposta pode ser levantada pelo Brasil na rodada de negociações sobre o substituto do Protocolo de Kyoto marcada para dezembro em Copenhague, na Dinamarca.
No caso do Paraguai, o predomínio da soja não foi barreira à adoção do plantio direto. A oleaginosa chegou a 2,5 milhões de hectares e fez a área agrícola dobrar para 3,2 milhões de hectares entre 1991 e 2008. Os dados são do governo paraguaio. O país alega ter, proporcionalmente, mais área de plantio direto que a Argentina, o Brasil ou os Estados Unidos. Porém, nem sempre se adota a rotação de cultura ou cuidados mais rigorosos para preservação da terra.
No Brasil, os problemas passam pela falta de estatísticas e pelas generalizações. O Censo Agropecuário 2006 incluiu em seu questionário o plantio direto. No entanto, o sistema de preparo de solo foi resumido como o plantio "em sulcos sobre os restos de culturas anteriores". Esse procedimento, por si só, não evita erosão. Os dados sobre a parcela dos 76 milhões de hectares de área agrícola com plantio direito ainda são desconhecidos.