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A relação do mercado da agroenergia com o dos alimentos levanta questões que merecem atenção especial. A grande expectativa era de que a participação do agronegócio na produção de combustíveis reduzisse os custos dos mais diversos ramos de atividade. E abriu-se espaço para um setor com grande potencial de expansão, na produção de etanol de cana e de diesel a partir de grãos e sementes.

Nem bem o setor de agroenergia se levantou, surge um questionamento crucial. Como justificar o uso da terra na produção de cana para etanol ou a destinação dos grãos para usinas de biodiesel enquanto o problema da fome continua sendo tão grave no próprio Brasil e se acentua em países africanos?

O Caminhos do Campo desta semana mostra que não existe um confronto no campo ou na indústria. Está claro, pelas discussões sobre o tema, que o produtor não decide o que será feito com a soja, que as empresas que padronizam e distribuem a produção guiam-se simplesmente pela demanda.

Como o consumidor que ora abastece o carro com gasolina ora opta por etanol, os mais diversos elos do agronegócio orientam-se pelas variações de preços. Sob a regência do mercado, a maior parte da área que se cultiva e de tudo que se colher ainda serve à produção de alimentos. Embora, em boa medida, a demanda energética já seja um dos principais estímulos ao cultivo.

O que falta é uma política global de resultados no combate à fome. Medidas que incentivem a destinação da produção à alimentação humana. Por enquanto, espera-se que o problema se resolva pelo próprio desenvolvimento das economias regionais, capaz de tornar os pobres menos pobres. Porém, isso pode levar muito tempo, prorrogando o sofrimento de bilhões de pessoas. Seria injusto culpar o agronegócio por esse drama sem fim da história humana. Neste momento, diante da preocupação com a saúde financeira das maiores economias do mundo, é difícil imaginar que a necessidade de aumento na produção agrícola para alimentação de regiões miseráveis ganhará o espaço que merece na política internacional.

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