A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) calcula que o prejuízo nos mercados de soja e milho tenha chegado a R$ 10 bilhões nos 20 dias de entrada em vigor da tabela com preços mínimos do frete. Os números foram entregues ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, que iniciou nesta quarta-feira, 20, uma audiência de conciliação sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a Medida Provisória 832, que estabeleceu preços mínimos para o frete rodoviário.
Por causa da indefinição de preços, o transporte e a comercialização estão travados. Segundo a CNA, há 60 navios parados nos portos aguardando carga. O custo com a espera chega a US$ 135 milhões.
Os cálculos da entidade consideram que, com a tabela, o frete rodoviário subiu em média 40%. No caso da soja e do milho, esse aumento ocorre quando há frete de retorno. Sem ele, a alta é de 50% a 150%.
Por causa do tabelamento, informa a CNA, 6,8 milhões de toneladas de soja e farejo deixaram de ser levadas aos portos e exportadas. Não havia mais espaço nos silos e armazéns. Aproximadamente 1,9 milhão de toneladas deixou de ser processado, o que significa que deixaram de ser produzidos 1,5 milhão de toneladas de farelo e 400 mil toneladas de óleo. Tampouco foram produzidos 225 milhões de litros de biodiesel.
Só com soja e milho, os prejuízos financeiros montam a R$ 7,5 bilhões, ou US$ 2 bilhões. Disso, mais de metade (US$ 1,3 bilhão) corresponde ao aumento do frete.
Há prejuízos também em outros mercados. Metade do volume de arroz a ser embarcada está parada nos portos. Os aumentos no frete do produto são da ordem de 35% a 50% para o mercado interno e 100% para a exportação. O aumento do preço para o consumidor final deverá ser da ordem de 10%.
No feijão, o impacto do aumento do frete vai variar entre 14% e 25%, com aumentos ao consumidor entre 15% e 20%. Para as carnes, o aumento do frete é de 63%, enquanto o frete para rações vai subir 83%.
No café, a tabela do frete aumentou o custo de transporte em 100%. Perto de metade do fluxo destinado ao mercado interno está com o fluxo comprometido, e em torno de 80% do produto destinado ao mercado externo também. Segundo a CNA, o embarque foi postergado e hoje há dificuldade em obter espaço para os contêineres nos navios, gerando despesas de detention e rollovers para os embarcadores. Para floresta, papel e celulose o custo médio do frete aumentou 36%.
No caso dos fertilizantes, a logística está parada há 20 dias. O carregamento atual é perto de 30% do fluxo normal, informa a CNA. Segundo a entidade, só é possível obter o produto nos portos. As indústrias de fertilizantes locais “não estão entregando”, informa a entidade. Estima-se que 85% da demanda nacional de fertilizantes já esteja vendida, mas “não há possibilidade de entrega”. Dos navios parados nos portos, 35 são de fertilizantes. Está sendo cobrada a taxa de demurrage, pois não há como armazenar o produto no porto.
Para as frutas, o custo de transporte vai subir perto de 30%. As áreas produtoras mais prejudicadas são Norte e Nordeste, pela ausência do frete de retorno.
Atrasos
O atraso no embarque da safra de milho e soja vai dificultar o recebimento e armazenagem da segunda safra ou safra de inverno do milho e do trigo que estão sendo colhidos, alerta a CNA, no documento entregue a Fux que analisa ação de inconstitucionalidade da Medida Provisória 832, que estabeleceu preços mínimos para o frete.
Segundo a CNA, a safra de inverno já começou a ser colhida e deverá ser de 10 milhões de toneladas de milho e 3,3 milhões de toneladas de trigo.
Outros prejuízos com o travamento do transporte e da comercialização dos produtos agrícolas é que o Brasil pode perder mercado dos países mais exigentes em relação à pontualidade e qualidade dos produtos, alerta a entidade. Poderá haver ainda a perda de fechamento de empresas e desemprego, já que compromissos financeiros, salários e impostos serão atrasados.
Os preços ao consumidor de frango tiveram elevação de 45% por causa do tabelamento do frete. No leite, a alta deverá ser de 50%.