A resistência das lavouras catarinenses será colocada à prova nas próximas semanas. Técnicos e produtores ouvidos pela Expedição Safra Gazeta do Povo avaliam que a abertura da temporada de colheita, que começou neste mês com o milho, foi positiva para um ano de La Niña. Eles afirmam, contudo, que se se a falta de chuva persistir atingirá em cheio a soja. Se isso ocorrer, o rendimento das plantações tende a declinar gradativamente a partir de agora. "Plantamos variedades de ciclo um pouco mais longo que o Paraná", compara o técnico da C.Vale em Abelardo Luz Julio César Pias Silva. Ele explica que em Santa Catarina o mês crítico para a soja é fevereiro, mês que também é decisivo para a consolidação de bons resultados no milho tardio.
"Minha sorte foi ter plantado trigo no último inverno. Com isso, atrasei o plantio da soja e acabei me dando bem. Se tivesse plantado mais cedo teria perdido tudo", desabafa o produtor Daniel de Fabris, de Abelardo Luz, no Oeste do estado. Com a ajuda das chuvas a partir de agora, ele espera colher média de 45 sacas (2,7 mil quilos) por hectare, 40% menos que no ano passado, de clima bom e produtividade recorde.
Semeado mais cedo, o milho escapou à seca e está rendendo 200 sacas (12 mil quilos) por hectare na propriedade de Fabris, índice similar ao obtido na safra passada. A pouco mais de 20 quilômetros dali, em Bom Jesus, a situação é completamente diferente. Há cerca de 30 dias sem chuva, Marcelo Cambrussi estima quebra de 20% a 40% no milho. "Dependendo da época de plantio, deve colher entre 160 sacas (9,6 mil quilos) e 130 sacas (7,8 mil quilos) por hectare", prevê.
A maior apreensão do produtor, no entanto, é com a soja. "Até agora, pelo menos 20% do potencial produtivo da soja já foi embora. A lavoura está começando a granar e, do jeito que está, rende no máximo 55 sacas (3,3 mil quilos) por hectare. Se não chover logo, acaba a reserva hídrica do solo e as vagens que não forem abortadas não vão encher bem", preocupa-se Marcelo. Na propriedade que administra com o pai, Valdomiro, semeou 200 hectares com duas variedades diferentes, ambas de ciclo semiprecoce. "Se continuar seco como está, soja com potencial para 70 sacas (4,2 mil quilos) não vai render mais que 20 sacas (1,2 mil quilos) por hectare", calcula.